O Mundial de Futebol no Qatar encontra-se
a decorrer com o peso de quantas vidas às suas costas? Quantos trabalhadores
morreram, durante a última década, na preparação deste evento mundial?
Existem várias estimativas sobre
quantos trabalhadores morreram nos estaleiros de obras do campeonato no Qatar,
contudo é difícil apurar o número real.
Quais os números?
Segundo uma investigação do jornal
britânico The
Guardian, entre 2011 e 2019, mais de 6500 trabalhadores provenientes da
Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka perderam a vida no Qatar, desde
o início dos trabalhos de construção, número que será significativamente maior
uma vez que estes números não incluem as mortes de trabalhadores provenientes
das Filipinas e do Quénia, bem como dos trabalhadores falecidos no ano de 2020.
A Amnistia Internacional divulgou que,
segundo dados oficiais do Qatar, 15.021 trabalhadores migrantes perderam a vida
entre 2010 e 2019, número global que inclui pessoas de todas as idades e
ocupações, não referindo claramente que estes trabalhadores faleceram em
virtude da falta de condições de trabalho nas obras do Mundial.
A verdade é que os dados oficiais não
indicam quantos trabalhadores morreram na preparação para o Campeonato do
Mundo.
São números escandalosos…e
possivelmente nunca saberemos ao certo quantas vidas se perderam, até porque
muitos destes trabalhadores eram ilegais e, portanto, nem sequer constam das
estatísticas oficiais, além de que, de acordo com a Amnistia Internacional, uma
boa parte das certidões de óbito refere “causa natural”.
Segundo informações divulgadas na
comunicação social, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um
relatório recente sobre acidentes e mortes de trabalhadores no Qatar,
informando que ocorreram 50 mortes em 2020, mais de 500 feridos graves e 37.600
sofreram ferimentos leves, ou moderados. A maioria dos trabalhadores são
migrantes provenientes do Bangladesh, da Índia e do Nepal.
Esta organização vem questionar,
ainda, os números acima referidos, por considerá-los “exagerados”, justificando
a necessidade de serem apurados dados rigorosos que permitam esclarecer quantas
vidas se perderam em virtude da falta de condições de trabalho no Qatar.
E os trabalhadores e respetivas
famílias?
Indiscutível é que, por detrás das
estatísticas e dos números não oficiais, estão inúmeras histórias de famílias
devastadas que ficaram sem o seu principal ganha-pão, e que sequer têm o
direito a conhecer as reais circunstâncias da morte dos seus entes queridos.
Quantos filhos ficaram sem pai?
Quantas mães e mulheres sem filhos e maridos? Quantos trabalhadores morreram de
ataque cardíaco como consequência da exposição a temperaturas extremas? Quantos
trabalhadores faleceram devido a insuficiência respiratória, extenuados por
trabalharem 12 horas, sem pausas, sem direito a bebidas frascas e a uma
alimentação reparadora?
Os outros trabalhadores, aqueles que
conseguiram sobreviver a esta verdadeira carnificina, têm histórias de abuso e
de exploração para relatar, com trabalhadores expostos a mão-de-obra forçada,
salários não remunerados, horários de trabalho excessivos, expostos a 45 graus
de temperatura, alojamentos com péssimas condições.
Para terminar, importa questionar quem
assume responsabilidades na compensação dos danos causados às famílias das
vítimas de acidentes mortais e aos trabalhadores que sobreviveram.
Quem assume a responsabilidade pela
indemnização não apenas das famílias dos trabalhadores que morreram na
construção dos estádios, mas também os que ficaram feridos, os que regressaram
aos seus países de origem com salários em atraso ou foram vítimas de abuso dos
empregadores.
Onde estão os direitos dos
trabalhadores? Onde estão os direitos humanos?
Parece-nos que este campeonato não
deve resumir-se a um evento desportivo mundial de grande dimensão, mas antes,
deveriam ser encetados esforços para marcar a necessidade de uma mudança em
relação ao respeito pelos DIREITOS HUMANOS.
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