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Em França, os operários e os
homens são mais frequentemente vítimas de acidentes relacionados com o trabalho
que provocam uma incapacidade permanente. "Este é um facto que recebe
pouca cobertura mediática, dada a extensão do sofrimento que causa na população",
segundo o Observatório dos Estrangeiros.
Em 2019, foram registados, em
França, 19 280 acidentes de trabalho com invalidez permanente entre operários,
em comparação com 1 805 entre os executivos. Se o número de acidentes estiver
relacionado com o número de horas trabalhadas em cada categoria, verifica-se
que o risco de ser vítima de um acidente grave é sete vezes maior para os
trabalhadores manuais do que para os gestores.
As vítimas são mais
frequentemente homens, uma vez que estão sobrerrepresentados nos setores de
maior risco. É o caso do setor da construção, com os trabalhos estruturais e da
carpintaria, por exemplo, ou da agricultura, nomeadamente da silvicultura e da
criação de cavalos.
A exploração mineira, o
transporte e a armazenagem contam-se igualmente entre os sectores mais
perigosos. Note-se que as trabalhadoras, embora menos numerosas, são quase tão
frequentemente vítimas de acidentes de trabalho graves como os seus homólogos
masculinos.
Os acidentes de trabalho com
resultado em morte são também mais frequentes entre os trabalhadores manuais,
que por si só, representam dois terços dos acidentes de trabalho mortais
registados em França em 2019. Em relação ao número de horas trabalhadas,
registam-se 4,6 vezes mais acidentes mortais entre os trabalhadores manuais do
que entre os quadros superiores.
Mais uma vez, observa-se uma desigualdade
de género ligado aos acidentes do setor: 91% das mortes são do sexo masculino.
Na Bélgica, uma nota recente do
Observatório Belga das Desigualdades faz uma observação semelhante: "as
desigualdades no domínio da saúde podem ser entendidas através do prisma da
atividade profissional". Existe uma taxa de mortalidade excessiva, por
todas as causas, em profissões onde as condições de trabalho são difíceis.
Os homens da madeira, os
operadores de centrais telefónicas, os trabalhadores da construção civil, os
motoristas de transportes públicos, os empregados de mesa, os carteiros, os
trabalhadores ferroviários, os trabalhadores da limpeza industrial e os
assistentes de apoio social, têm uma mortalidade muito mais elevada do que os
advogados, cientistas, dentistas, diretores de empresas, médicos, quadros
superiores, empreiteiros de construção, engenheiros e professores do ensino
superior.
A classificação das ocupações
por mortalidade reflete uma hierarquia social.
As ocupações de prestígio e
relacionadas com o poder estão sub-mortalizadas, enquanto as ocupações
subordinadas que consistem em tarefas executivas são claramente
sobre-mortalizadas. A saúde subjetiva, relatada pelos próprios trabalhadores,
segue a mesma lógica: quanto maior o excesso de mortalidade da categoria, maior
a proporção de pessoas com saúde média ou ruim.
Estes diferentes resultados
sublinham a dimensão cumulativa das desigualdades sociais: para além de serem
confrontadas com empregos mais extenuantes e mal pagos, as classes mais baixas
vivem menos tempo e sentem-se em pior saúde.
Além disso, as desigualdades reproduzem-se, em grande
medida, de geração em geração: um filho de um trabalhador pouco qualificado tem 53 vezes menos probabilidades de ser um
gestor superior do que um trabalhador pouco qualificado. Assim, dependendo da
posição social dos seus pais, um indivíduo terá uma possibilidade maior ou
menor de ter uma profissão valorizada, de ter boa saúde e uma vida longa.
Embora o estudo não estabeleça
uma causalidade entre o excesso de mortalidade e a atividade profissional,
sugere que a atividade laboral pode, de facto, ter um impacto significativo na
saúde e na esperança de vida.
O trabalho não pode ser
dissociado das condições de vida: ter um trabalho árduo significa também ter um
salário mais baixo, que determina a dimensão e o conforto da casa, que
condiciona as escolhas alimentares, o tempo livre disponível, etc.
"São todas essas
interações entre desigualdades que devem ser entendidas do ponto de vista da
saúde pública", aponta o Observatório. "Uma política pública
preocupada com a redução das desigualdades sociais em saúde implicaria, assim,
profundas mudanças estruturais com vista à redução das desigualdades sociais
noutras áreas que não a saúde propriamente dita, particularmente em termos de
emprego, habitação e rendimento.
Tradução da responsabilidade do
Dep. SST
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