A
nova economia do mercado globalizado tem modificado as práticas organizacionais
no mundo do trabalho.
O aumento da competitividade, a reestruturação produtiva e a redução da força de trabalho têm contribuído para uma variedade de condições de trabalho potencialmente negativas para a Saúde e Segurança dos trabalhadores e trabalhadoras.
O
setor financeiro foi um dos mais atingidos pelas mudanças imputadas pela
globalização e, recentemente, também pela crise económica sentida desde 2007,
resultando num aumento das pressões de tempo, exigências de trabalho excessivas
e aumento de casos de violência e assédio, com forte impacto na saúde física, mental
e no bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras do setor.
O crescimento dos
riscos psicossociais e, em particular do burnout no setor financeiro, torna
urgente a implementação de medidas que previnam o aumento destes riscos e
reduzam a gravidade do seu impacto, ao nível do stresse e do esgotamento severo
nestes profissionais.
Ciente
da amplitude destes fenómenos, a UGT e os sindicatos associados do setor,
encetaram esforços para a realização de um estudo sobre esta problemática, de
molde a aferir quais as causas e as consequências deste flagelo para a vida dos
trabalhadores e trabalhadoras deste setor, bem como definir estratégias para
defender os trabalhadores que se encontram em risco, nomeadamente ao nível da
definição de boas práticas negociais.
Os
questionários utilizados para o presente Estudo foram o Copenhagen Psychosocial
Questionnaire, a versão média (COPSOQ II) aferida para a população
portuguesa que avalia 29 subdimensões de fatores psicossociais e o Oldenburg
Burnout Inventory (OLBI) que avalia o burnout e é constituído por 2
subescalas que avaliam a exaustão e o distanciamento.
A
amostra foi constituída por 2460 trabalhadores de todo o país (1256 do sexo
feminino e 1204 do sexo masculino), dos quais:
-
1964 não chefias;
-
423 chefias;
- 73
quadros diretivos.
Os
resultados obtidos com o OLBI confirmam que estes profissionais
apresentam níveis de burnout (burnout dos participantes = 3,29) superiores à
média da população portuguesa.
Os
trabalhadores e as trabalhadoras do setor bancário apresentam níveis de
exaustão física, cognitiva e emocional elevados (3,4), claramente superiores à
média da população portuguesa (2,8), que se traduzem em comportamentos de distanciamento
(3,18), resultado claramente superior à média nacional (2,56).
Quando comparamos as categorias
profissionais, são os
profissionais que não têm funções de chefia que apresentam
níveis mais elevados de burnout:
-
Resultado burnout não chefias=3,32;
- Resultado burnout chefia=3,25;
- Resultado burnout função diretiva=2,92.
Na comparação entre sexos, verifica-se
que são as mulheres as que apresentam níveis mais elevados de burnout:
-
Resultado burnout mulheres=3,35;
-
Resultado burnout homens=3,24).
Relativamente
aos resultados do COPSOQ II, sublinham-se as seguintes conclusões
(elencagem necessariamente não exaustiva):
- 60,5% dos profissionais do setor bancário
atribuem um significado positivo ao seu trabalho;
- 57,4%
sentem que a sua atual atividade profissional é promotora de oportunidades de desenvolvimento
e de aquisição de novas competências;
- 65,4%
dos profissionais reconhecem claramente a natureza do trabalho proposto, os
objetivos a alcançar e as expetativas relativamente ao desempenho;
- 96,8%
dos participantes consideram que não há violência
física nem psicológica na sua atividade profissional;
- 66,4%
apresentam de risco elevado
no que se refere a ritmos de trabalho;
- 71,7%
apresentam risco elevado
no que se refere a exigências cognitivas;
- 70,1%
apresentam risco elevado no que se refere a exigências emocionais);
- 50,9%
apresentam risco
elevado no que se refere ao conflito trabalho/família).
Os
dados obtidos relativamente à saúde e ao bem-estar destes profissionais revelam
resultados preocupantes ao nível do stresse, nomeadamente:
- 43,3%
de risco elevado na subescala
stresse;
- 36,1% de risco elevado na subescala problemas
em dormir;
- 3%
de risco elevado na subescala sintomas depressivos;
- 47,3%
de risco elevado na subescala burnout.
Os
resultados deste estudo demonstram a necessidade genérica de revisão das
condições em que estes profissionais exercem a sua atividade profissional
(exigências quantitativas, de ritmo, emocionais e cognitivas) e que se traduzem
numa sobrecarga mental, emocional e física.
Nota: Será publicado um artigo extenso sobre os resultados deste estudo no próximo número da Revista “O bancário”.
0 comentários:
Enviar um comentário