A Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) revelou as principais
conclusões do seu quarto Inquérito Europeu às Empresas
sobre Riscos Novos e Emergentes (ESENER 2024),
realizado em 2024. Este inquérito exaustivo abrangeu 41 458 estabelecimentos de
diversos setores, cada um empregando pelo menos cinco pessoas, e abrange 30
países, incluindo a UE-27, a Islândia, a Noruega e a Suíça.
Na
generalidade, os resultados revelam uma estagnação preocupante nos esforços
para mitigar os riscos psicossociais relacionados com o trabalho e os perigos
da rápida digitalização, refletindo as tendências observadas em 2019, bem como
um declínio preocupante na participação dos trabalhadores.
Os riscos
psicossociais relacionados com o trabalho mantêm-se, em grande medida,
inalterados
Os números
mostram que os riscos psicossociais relacionados com o trabalho permanecem
praticamente inalterados desde 2019. Sobre a questão dos clientes difíceis,
doentes, alunos, etc., 56% dos inquiridos confirmaram ter passado por isso em
2024 contra 59% em 2019; na pressão de tempo, 43% em 2024 contra 45% em 2019;
horários de trabalho longos/irregulares: aproximadamente 18% vs 21%;
comunicação deficiente: 19% vs 18%; precariedade laboral: 11% vs 10%.
No entanto,
existem variações por país na prevalência destes riscos. Por exemplo, nos
países nórdicos, a pressão do tempo foi referida como um dos principais fatores
de risco (Suécia, 64%; Finlândia, 71%.).
Embora mais
estabelecimentos relatem dispor de informações suficientes para incorporar os
riscos psicossociais nas suas avaliações, passando de 60% em 2019 para 64 % em
2024, a relutância em discutir abertamente as questões psicossociais continua a
impedir o progresso, a par da falta de sensibilização e de apoio especializado.
Surpreendentemente,
um quarto dos estabelecimentos inquiridos (25%) referiu não ter fatores de
risco psicossociais. Destes, as percentagens mais elevadas encontram-se em
Itália (47%) e na Lituânia (44%), enquanto as mais baixas se registam na
Finlândia (12%), Chipre, Bélgica e Alemanha (14%).
Curiosamente,
os estabelecimentos que reportam riscos psicossociais relacionados com o
trabalho estão a integrar lentamente o apoio à saúde mental no local de
trabalho, com 21% dos estabelecimentos a utilizarem os serviços de um psicólogo
– contra 19% em 2019. Este número varia drasticamente de país para país, com a
Finlândia a liderar com 73 %, seguida da Bélgica (48 %) e da Dinamarca (47 %).
Notavelmente,
apenas 46% dos estabelecimentos têm procedimentos para lidar com ameaças,
abusos ou agressões, contra 51% em 2019. No entanto, há sinais de melhoria: 39%
têm agora planos de ação para lidar com o stress (contra 33%) e 55% têm
protocolos para lidar com bullying ou assédio (contra 45%).
Digitalização:
uma faca de dois gumes
Não é de
estranhar que o trabalho a partir de casa tenha quase duplicado desde os tempos
pré-pandemia, agora com 23% em comparação com 13% em 2019.
Além disso,
a inclusão de avaliações de risco em teletrabalho aumentou significativamente,
passando de 31% em 2019 para 48% em 2024.
Talvez seja
por isso que a longa permanência na posição de sentado emergiu como o fator de
risco físico mais prevalente, afetando 64% dos estabelecimentos em 2024 – um
ligeiro aumento em relação aos 61% de 2019.
Apesar da
rápida adoção de tecnologias digitais, apenas 43 % dos locais de trabalho
incluem avaliações de riscos relacionadas com a sua utilização e apenas 42 %
ministram formação neste domínio. Isto é preocupante, dado que mais de 80% da
força de trabalho utiliza vários dispositivos digitais.
O inquérito revela que 35% dos
estabelecimentos que utilizam tecnologias digitais consultaram os trabalhadores
sobre potenciais impactos na saúde e segurança – um aumento significativo em
relação aos 24% de 2019.
Os riscos
mais frequentemente comunicados associados à digitalização incluem a longa
permanência na posição de sentado (54 %) e os movimentos repetitivos (47 %), a
par de desafios psicossociais como o aumento da intensidade do trabalho (34 %)
e a sobrecarga de informação (32 %).
A imagem
país por país é muito diversificada. Na Finlândia, as taxas mais elevadas de
riscos profissionais associados à digitalização são o trabalho sozinho e o
isolamento dos colegas (43 %), juntamente com a falta de capacidade para
trabalhar com tecnologias digitais (46 %), ao passo que, na Alemanha, 54 % dos
locais de trabalho referem um aumento da intensidade do trabalho e da
sobrecarga de informação.
Participação
dos trabalhadores: tendência decrescente
Registou-se
um declínio preocupante da participação dos trabalhadores na conceção e
implementação de medidas de mitigação dos riscos psicossociais, baixando de 61%
em 2019 para 55% em 2024.
Esta
tendência reflete uma questão mais vasta, uma vez que quase um terço dos
estabelecimentos não dispõe de qualquer forma de representação dos
trabalhadores, um número que atinge um pico na Grécia (73%), Portugal (65%) e
Letónia (65%).
Devido à
natureza dos riscos psicossociais, seria de esperar que as medidas neste
domínio implicassem a participação direta dos trabalhadores e um grau
especialmente elevado de colaboração de todos os intervenientes no local de
trabalho, mas as conclusões não sugerem isso.
Além disso,
o cumprimento das obrigações legais continua a ser a principal motivação para a
gestão da segurança e saúde no trabalho (SST), comunicada por 87% dos
estabelecimentos.
No entanto,
embora quase 80 % citem a prevenção de sanções por parte dos inspetores do
trabalho como uma razão para a gestão da SST, a percentagem de estabelecimentos
sujeitos a inspeções de trabalho diminuiu, descendo de 43,2 % em 2019 para 40 %
em 2024, com as quedas mais significativas na Grécia e na Irlanda.
Estes
resultados evidenciam uma tendência preocupante no que diz respeito à aplicação
da legislação necessária para garantir locais de trabalho saudáveis e seguros
para todos os trabalhadores europeus.
Fonte:
ETUI/ Tradução da responsabilidade do Dep. SST
Consulte aqui o relatório
completo do ESENER 2024.




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