Resumo
executivo
A UE-OSHA publicou este resumo resultado de um projeto,
denominado: 'Trabalho Mais Seguro e Saudável em
Qualquer Idade' e que visa:
- Melhorar a
implementação das recomendações existentes;
- Intercâmbio de
boas práticas;
- Investigação contínua de possíveis formas
de melhorar a segurança e a saúde
no trabalho (SST) promovendo assim a sustentabilidade do trabalho.
Esta revisão analisa um conjunto de questões relacionadas com o género e a idade, particularmente relevantes para mulheres mais velhas, no contexto da segurança e saúde no trabalho (SST) e do trabalho sustentável.
Hoje, assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Continuamos a lutar pela igualdade de género nos locais de trabalho.
Neste dia, há que continuar a promover a sensibilização para os desafios que afetam as vidas das mulheres que trabalham, sendo que é fundamental equacionar uma série de questões, entre muitas, as relativas ao envelhecimento das mulheres em idade ainda ativa e quais as suas implicações para a SST.
Pela pertinência da temática, o Departamento de SST da UGT traduziu este importante resumo executivo, em que são analisadas questões fundamentais, como sendo:
- Diferenças de género e envelhecimento;
- Diferenças relacionadas com o género entre homens e mulheres;
- A menopausa e promoção da saúde no local de trabalho;
- Estratégias de Segurança e Saúde
sensíveis ao género em
todo o percurso de vida;
- Stresse e Lesões músculo-esqueléticas;
- Incorporar dimensões etárias e
de género na avaliação de risco e desenvolvimento de estratégias;
- Integrar
a diversidade nas estratégias nacionais de Segurança e Saúde no Trabalho.
Advertimos que a tradução deste documento é da responsabilidade do Departamento de SST, podendo a versão original do mesmo ser consultada Aqui
Por que razão é o género relevante para a gestão da segurança e saúde no trabalho e do trabalho sustentável relacionados com a idade?
É importante discutir como o
género e a idade interagem em
relação à SS e ao trabalho
sustentável, a fim de contribuir para a
definição de políticas, para o debate e para
a investigação futura sobre o trabalho
sustentável.
A
gestão relacionada com a idade, que representa as mudanças demográficas, é crucial para a implementação
dos objetivos de aumento das taxas de
emprego entre as mulheres, no contexto da Estratégia Europa 2020.
No
entanto, podem ser necessárias medidas diferentes para
manter e melhorar a SST das
trabalhadoras mais velhas. É fundamental equacionar esta dimensão relacionada com o género, no que diz
respeito a diferentes abordagens:
- Medidas
de equilíbrio entre o trabalho e as
responsabilidades de apoio aos trabalhadores mais velhos;
- Impacto
do trabalho físico nas mulheres em
relação, por exemplo, às perturbações músculo-esqueléticas (LME);
- Impacto do stresse e do burnout resultantes de
um trabalho emocionalmente exigente
realizado pelas mulheres.
Apesar
de se verificar um crescente trabalho
sobre os domínios do género e da idade no local de
trabalho, abordados em separado, tem
havido uma investigação limitada sobre a intersecção entre o género e
a idade e a SST. No entanto, existem
informações pertinentes a partir de
estudos sobre género, elaborados pela EU-OSHA e pela Eurofound.
Diferenças de Género nas alterações do envelhecimento
Uma série
de mudanças que são verificadas na capacidade física e na saúde das mulheres encontram-se
associadas ao envelhecimento, e estas são influenciadas pelo género (isto é, relacionam-se
com aspetos biológicos) e diferenças de género (isto é, aspetos socialmente
construídos), podendo afetar a
capacidade de trabalho das mulheres mais velhas.
As
mulheres vivem mais tempo do que os homens, mas também têm mais probabilidades
de viver mais tempo com uma doença crónica ou incapacidade do que os homens.
A mudança
de idade mais óbvia é a menopausa, embora
tenha havido muito pouca pesquisa sobre
a influência da menopausa nas mulheres trabalhadoras. A osteoartrite e a osteoporose são diagnosticadas com mais frequência
nas mulheres do que nos
homens, e estão relacionadas com a idade. A osteoporose aumenta o risco de
fraturas no local de trabalho. Foram observadas diferenças entre homens e mulheres
no que diz respeito à prevalência
de doenças crónicas, como a doença pulmonar obstrutiva
crónica.
Estes
aspetos também podem ser explicados por diferenças na exposição aos
riscos no local de trabalho. O cancro
da mama é muito mais
predominante entre as mulheres; a
evidência está a crescer para uma ligação entre
o trabalho por turnos de longa duração,
particularmente o trabalho
noturno, e o cancro da mama.
É importante evitar estereótipos relacionados com os trabalhadores mais velhos, e relativamente às mulheres mais velhas em particular, e com a sua capacidade de trabalho.
Os
declínios verificados na capacidade física
e na saúde devido à idade,
nas mulheres e nos homens, muitas vezes, não afetam o
desempenho do trabalho. Muitas doenças
crónicas são controláveis. Por exemplo, podem ser tomadas várias medidas,
no local de trabalho, para ajudar
os trabalhadores com artrite a gerir a sua dor e fadiga. Os trabalhadores mais velhos
também podem usar a sua
experiência para adaptar as suas formas
de trabalho.
Muitas vezes podem ser tomadas medidas simples no local de trabalho para impedir a saída precoce do trabalho, como as alterações nos equipamentos, alterações na forma como uma tarefa é executada, ajustes no horário de trabalho ou transferência para um trabalho alternativo, se tal for necessário.
A adoção de simples
medidas ergonómicas para reduzir as
cargas horárias, por exemplo, o levantamento de carga com ajuda, têm um
impacto positivo nos
trabalhadores jovens e nos mais velhos, sendo que a
única diferença é que,
ao mesmo tempo que facilitam o trabalho
para os trabalhadores mais jovens,
muitas vezes tornam possível o
trabalho para os trabalhadores mais velhos.
Diferenças relacionadas com o género entre homens e mulheres existem em todo o curso de vida profissional
De acordo com o European Working Conditions Survey, existem diferenças de género em todo o percurso da
vida profissional e, em geral, o bem-estar
é mais baixo para as mulheres do
que para os homens. Esta diferença de
género acentua-se depois da mulher ter
tido filhos.
A segregação vertical e horizontal no mercado
de trabalho expõe, em geral, as
mulheres e as mulheres mais velhas,
a riscos diferentes daqueles a que os
homens estão expostos.
Isto afeta a saúde das mulheres ao longo
da sua vida profissional.
A segregação vertical de género conduz a uma concentração de
mulheres em empregos de categoria mais baixa na hierarquia do emprego; isto deve-se à falta de oportunidades de
promoção e mobilidade profissional. A segregação
vertical por falta de mobilidade profissional pode levar a uma
exposição prolongada a determinados
riscos no local de trabalho, tais
como o trabalho repetitivo ou o
trabalho que requer posturas inadequadas.
A segregação horizontal diz respeito ao facto de homens e mulheres tenderem a
trabalhar em diferentes setores
económicos. As mulheres mais velhas estão sob-representadas nos setores da saúde
e de apoio social, educação e outros setores de serviços. No contexto do
trabalho sustentável, é importante
não subestimar as exigências
físicas e emocionais
do trabalho de algumas
mulheres.
A movimentação manual de cargas, o trabalho altamente repetitivo
e acelerado, o trabalho por turnos, o risco de violência
e assédio, e o stresse são questões
que afetam a qualidade
da vida profissional em muitos
domínios em que as mulheres trabalham.
Quanto a outras áreas da SST, as estratégias de trabalho
sustentável devem abordar os setores e os postos de trabalho em que as mulheres predominam,
como os cuidados de saúde, a educação, a limpeza e o
trabalho a retalho, bem como os setores dominados pelos homens,
como a construção civil.
Esta questão é
igualmente importante no contexto de
um risco acrescido
de se desenvolver LMER em resultado de
um trabalho em escritório; isto
é especialmente relevante
para os trabalhadores administrativos de qualidade relativamente baixa,
que têm menos
controlo e menso variedade no
seu trabalho.
A menopausa e promoção da saúde no local de trabalho
Outras questões de saúde
enfrentadas por mulheres são as relacionadas, por exemplo,
com a menopausa e que continuam a
ser tabus na
sociedade e, portanto, no
local de trabalho.
No local de
trabalho podem ser
tomadas medidas simples para resolver
estas questões de saúde; por exemplo, o acesso à água
potável pode ser
providenciado, o vestuário
em camadas pode
ser utilizado para
uniformes, e o trabalho flexível
pode ser arranjado para facilitar as consultas
médicas. No entanto, é necessário uma
maior sensibilização e apoio aos locais de trabalho, incluindo aconselhamento sobre medidas não estigmatizantes, políticas-modelo e listas de verificação de avaliação de
riscos.
Além disso, é
necessária mais investigação sobre as implicações no local de trabalho. Do
mesmo modo, é necessário que sejam necessárias abordagens mais adaptadas para abordar a
promoção da saúde dos homens no
local de trabalho, especialmente
porque são necessárias diferentes técnicas
de sensibilização para envolver
homens e mulheres.
Estratégias de Segurança e Saúde
Profissionais sensíveis ao género em
todo o curso de vida
As estratégias de Segurança e Saúde
no local de trabalho para o trabalho sustentável , que
começam pelos trabalhadores mais
jovens, devem ser
sensíveis à idade e ao género.
Por exemplo, uma abordagem ao
longo da vida para o trabalho sustentável deve
abranger a educação
e a prevenção de riscos para raparigas
e rapazes nas escolas e garantir
que a educação em SST aborda os
riscos associados aos empregos dominados pelas mulheres e que a SST esteja
incluída na formação
profissional nos empregos típicos
das mulheres.
Stress e Lesões músculo-esqueléticos
O stresse e as LME podem ter um grande impacto na
sustentabilidade do trabalho das
mulheres. É necessário
dar mais atenção a estas
duas questões, incluindo a aposta na
prevenção de riscos em postos de trabalho predominantemente realizados
pelas mulheres. Por exemplo, no caso das LME é necessário dar mais
atenção ao trabalho
que implique uma posição prolongada
ou uma sessão prolongada, ambas
predominantes em alguns postos de trabalho
muitas vezes realizados por
mulheres, como nos supermercados
ou no trabalho de administração de
escritórios.
Reabilitação
Deve também ser dada uma atenção específica ao género para a
reabilitação de doenças relacionadas com o trabalho e para garantir
que os programas sejam acessíveis
às mulheres com responsabilidades em cuidados infantis.
O não reconhecimento da relação de trabalho da
saúde das mulheres
pode constituir um
obstáculo para as mulheres
acederem à reabilitação se
esse acesso depender
de um problema de saúde ocupacional reconhecido.
Como exemplo de
boas práticas de
reabilitação, a organização
francesa de seguros de
lesões laborais Anact (L'agence
nationale pour l'amélioration des
conditions de travail)
promoveu um guia
para a reabilitação de trabalhadores
do sexo feminino após o
tratamento para o
cancro da mama; este foi
desenvolvido por associações de
médicos ocupacionais. O cancro da mama é um
dos cancros femininos mais
comuns e afeta principalmente
as mulheres mais velhas.
Incorporar dimensões etárias e
de género na avaliação de risco e desenvolvimento de estratégias
Para a promoção de trabalho sustentável, é importante
integrar a idade e a diversidade na avaliação de riscos, de modo a que as
estratégias da SST promovam a diversidade através da
prevenção de riscos
e combatendo os riscos
na sua origem.
Isto deve ser sustentado por princípios fundamentais baseados
na importância das medidas coletivas, na consulta com os
trabalhadores e na valorização da diversidade
como recurso. Por conseguinte, é importante abordar a
igualdade etária, a igualdade de género
e a SST num só quadro político.
A estreita ligação entre a igualdade de género e o trabalho
sustentável é demonstrada numa intervenção que foi
utilizada por uma
empresa de impressão francesa. As mulheres que trabalham nas atividades
de 'acabamento' sofreram de taxas excecionalmente elevadas de
LME. Recomendaram-se melhorias ergonómicas, mas foi necessário fazer mais
para evitar a exposição a tarefas repetitivas por longos períodos.
Uma análise da duração do tempo passado em diferentes empregos
por género, revelou que os homens eram mais rapidamente promovidos do que as
mulheres, pelo que uma das recomendações incluía a promoção do desenvolvimento
da carreira das mulheres e o reconhecimento de competências, a fim de evitar que
as mulheres ficassem presas a longo prazo em empregos repetitivos.
Um exemplo de desenvolvimento de uma boa prática integrada
num setor dominado pela força de trabalho feminina é a estratégia implementada
pelo Working Long Group (WLG) do
Serviço Nacional de Saúde
(SNS) no Reino Unido. Este grupo foi criado para fazer face ao impacto do aumento da idade
da reforma de 65 anos
para 68 anos na mão de obra do SNS -
que é 77 %
feminino- com quase dois terços dos profissionais de enfermaria com mais de
40 anos.
As recomendações abrangem
quatro áreas principais : dados; opções de pensões e
decisões de reforma; regimes de trabalho e
ambiente de trabalho; e boas
práticas de saúde no trabalho,
segurança e bem-estar.
A auditoria concluiu que,
se os trabalhadores mais velhos estiverem de
boa saúde e o seu
trabalho estiver correto,
podem trabalhar tão
produtivamente como os seus
congéneres mais jovens.
Isto sublinhou a
importância da plena aplicação
das orientações setoriais em matéria de
saúde e
bem-estar no trabalho,
a fim de garantir que uma
vida profissional mais longa não afete
negativamente a saúde ou a
capacidade de trabalho de forma
eficaz e
segura dos trabalhadores.
Foram feitas recomendações específicas no que respeita ao desenvolvimento e
implementação de um quadro de avaliação dos riscos, a fim
de ajudar as organizações a abordarem o
impacto cumulativo do
trabalho por mais tempo. Para os
empregadores, isto significa apoiar o pessoal com
problemas de saúde, promover a segurança e o bem-estar
ao longo da sua vida profissional, a fim de permitir-lhes trabalhar mais tempo.
Cuidadores familiares
Com o envelhecimento da população ativa e o aumento da idade da reforma, é provável
que mais trabalhadores tenham a
responsabilidade de cuidar dos seus familiares doentes. As medidas de conciliação entre o
trabalho e a vida
familiar são cada vez mais reconhecidas como importantes, no
contexto da Estratégia de Emprego da UE para 2020, e como um motor para a
igualdade de género.
Atualmente, cerca de 80 % do tempo é gasto a cuidar de
pessoas com deficiência e de idosos,
sendo este trabalho prestado por
cuidadores informais. A maior proporção destas tarefas é
prestada por mulheres com idade ou superior a 50
anos.
Há provas de que os homens mais velhos são mais propensos a serem
cuidadores, por exemplo, de um cônjuge doente ou de um
pai idoso, do que os homens mais novos. No entanto, as estratégias atuais destinadas aos cuidadores concentram-se
em jovens mulheres com
necessidades de acolhimento de crianças.
Devem ser
evitados preconceitos sobre
quem pode ser
afetado pelos deveres
de cuidado, a fim de desenvolver políticas e práticas de reconciliação adequadas,
que são essenciais
para promover o
emprego das mulheres mais velhas
e dos homens mais velhos.
Os
regimes de trabalho flexíveis e as políticas de trabalho a tempo parcial, como já
foram implementados para os jovens pais, devem também ser considerados,
a fim de evitar que os cuidadores mais velhos, e especialmente as trabalhadoras,
tenham que deixar de trabalhar para cuidar do seu familiar.
Integrar
a diversidade nas estratégias nacionais de Segurança e Saúde no Trabalho
Os
inspetores de trabalho devem poder apoiar o processo de incorporação de
considerações de idade e de género nas estratégias sustentáveis no local de
trabalho, sem causar discriminação. Para tal, a diversidade deve ser integrada
de forma sistemática nas estratégias e atividades dos inspetores do trabalho.
Um
exemplo de como o conseguir é dado pela estratégia de integração da diversidade
que foi implementada pela inspeção do trabalho austríaca, que inclui uma série
de instrumentos de integração de género, listas de verificação de formação e
diversidade para os inspetores utilizarem nas empresas.
Outro
exemplo é a investigação e aconselhamento para os empregadores em diferentes
áreas de diversidade realizadas e fornecidas pelo Uk Health and Safety
Executive.
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