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sexta-feira, 1 de julho de 2022

ETUI: Cancros profissionais: que reconhecimento na Europa? .

 

Cancros profissionais

 

Em 2014, quase 1,3 milhões de pessoas morreram de cancro na UE-28, o que equivale a mais de um quarto (26,4 %) do número total de mortes. Muitas destas mortes resultam diretamente da exposição dos trabalhadores a agentes cancerígenos no trabalho. Os dados disponíveis corroboram a opinião de que pelo menos 8% das mortes por cancro estão relacionadas com o trabalho. Para alguns tipos de cancro, como o cancro do pulmão ou da bexiga, o número é mesmo muito superior a 10%.

 

Com mais de 100 000 mortes por ano, os cancros profissionais são a principal causa de morte no trabalho na UE. A CES e a UET consideram que a prevenção deve ser o principal objetivo de qualquer estratégia sindical de luta contra os cancros profissionais. A legislação da UE dota os trabalhadores de boas ferramentas orientadas para o objetivo específico de reduzir ou eliminar os agentes cancerígenos no local de trabalho.

 

O problema é que os trabalhadores ainda não estão familiarizados com eles e poucos empregadores estão a cumprir as suas obrigações legais. Em consequência, vários inquéritos nacionais aos trabalhadores revelaram que, embora o emprego industrial esteja a diminuir, o número de trabalhadores expostos a agentes cancerígenos não está a diminuir. Isto significa que é necessária uma verdadeira ação sindical de base, juntamente com trabalho para melhorar ainda mais o quadro jurídico da UE.

 

Os cancros profissionais são responsáveis por mais de 100 000 mortes por ano na UE, mas estes poderiam ser evitados através da eliminação dos agentes cancerígenos nos processos de produção. Este volume editado reúne as contribuições de 28 especialistas para uma revisão do estado atual do conhecimento sobre o tema, as novas práticas de prevenção, a evolução da legislação e o reconhecimento dos cancros como doenças profissionais.

 

Coincide com a revisão da diretiva europeia relativa à proteção dos trabalhadores expostos a agentes cancerígenos e visa contribuir, através de investigação baseada em dados concretos, para os debates em torno do trabalho destinado a eliminar os riscos de cancro no trabalho.


   Cancros profissionais: que reconhecimento na Europa? 

A sensibilização da sociedade para os cancros profissionais pode ser melhor explicada utilizando a imagem de um icebergue: a ponta do icebergue – correspondente ao número de casos de cancro relacionado com o trabalho reconhecidos e compensados anualmente na UE-28 – representa apenas cerca de 10% do número real de casos presumidos associados às condições de trabalho.

 

Nas nossas sociedades industriais, a grande maioria dos casos de cancro profissional permanece invisível. Embora a dimensão do problema varie de Estado-Membro para Estado-Membro, os cancros deste tipo são subnotificados e predominantemente ignorados em toda a UE. Esta invisibilidade tem repercussões nas medidas que podem ser postas em prática para prevenir e evitar estas doenças profissionais, uma vez que é difícil organizar ações preventivas (e, em especial, melhorar as políticas existentes) sem uma noção clara da magnitude do problema e das suas causas.

 

Por conseguinte, é importante fazer o balanço da situação em torno do reconhecimento dos cancros de origem profissional na Europa, tendo em conta tanto os obstáculos enfrentados como os custos significativos suportados pelas vítimas, pelas suas famílias e pela sociedade no seu conjunto.

 

A primeira contribuição descreve a forma como o sistema de reconhecimento dos cancros profissionais é aplicado em vários países europeus, enumerando praticamente todos os tipos de cancro (discriminados por localização do tumor e agente causal) atualmente incluídos nas listas nacionais de doenças profissionais e, por conseguinte, presumidos – mais ou menos automaticamente, dependendo do país – como sendo de origem profissional.

 

A par das listas, muitos países europeus aplicam um sistema suplementar de reconhecimento "fora da lista" que exige que os doentes apresentem provas de que o seu cancro tem origem profissional; esta é uma tarefa muito mais desafiadora, e muito poucos conseguem alcançá-la.

 

Embora a taxa de reconhecimento dos cancros profissionais varie de Estado-Membro para Estado-Membro, 80% dos casos reconhecidos na maioria dos países europeus estão relacionados com o amianto. A segunda contribuição aprofunda os muitos obstáculos encontrados em relação à declaração e ao reconhecimento dos cancros relacionados com o trabalho. Os cancros são doenças multifatoriais e as ligações potenciais com a vida profissional do doente podem ser difíceis de identificar.

 

Os tumores de origem ocupacional raramente diferem substancialmente daqueles de outras origens, e muitas vezes são diagnosticados pela primeira vez após um período de latência que dura até várias décadas (20 anos em média, e às vezes até 40 anos).

 

Talvez mais importante ainda, os médicos que diagnosticam estes cancros raramente estão interessados no historial profissional dos seus pacientes, e muitos dos próprios doentes desconhecem o facto de terem sido expostos a agentes cancerígenos ao longo da sua vida profissional.

 

Mesmo que estes obstáculos sejam ultrapassados e se estabeleça uma ligação entre um caso de cancro e a anterior vida profissional do doente, a investigação demonstrou que os doentes nem sempre exercem o seu direito a indemnização; muitos preferem dedicar a sua energia à luta contra a doença e a aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta, em vez de embarcarem numa batalha legal de resultados incertos para que o cancro seja reconhecido e compensado como doença profissional.

 

Os cancros profissionais podem ser descritos como doenças «negociadas» com o fundamento de que nem todos os casos de cancro declarados como de origem profissional são automaticamente reconhecidos como tal, e os doentes têm frequentemente de lutar arduamente para obter o reconhecimento dos danos que sofreram.

 

As mulheres, em particular, enfrentam uma luta difícil e têm mais dificuldade do que os homens em conseguir o reconhecimento da origem profissional dos seus cancros. A terceira contribuição examina o desfasamento entre o conjunto de conhecimentos sobre as ligações entre o trabalho e o cancro, por um lado, e a exposição em locais de trabalho da vida real, por outro. A maioria dos estudos de investigação centra-se apenas num agente cancerígeno, enquanto os trabalhadores no mundo real estão frequentemente expostos a vários agentes cancerígenos ao mesmo tempo.

 

Estas exposições múltiplas tornam-se óbvias se considerarmos a variabilidade das atividades no exercício da mesma profissão ou, como acontece cada vez mais frequentemente, o exercício de diferentes profissões durante uma carreira. Os tribunais franceses reconheceram vários casos de cancro profissional causados por exposições múltiplas a agentes cancerígenos, podendo, em última análise, ser introduzidas alterações a nível prático e regulamentar com vista à inclusão desses casos nos registos de doenças profissionais.

 

A contribuição final examina os custos sociais dos cancros profissionais. Estes custos dividem-se em três categorias diferentes: custos diretos (tratamentos médicos), custos indiretos (perdas de produtividade) e custos humanos (ou intangíveis) associados à deterioração da qualidade de vida dos doentes. Os dois estudos de investigação independentes atualmente disponíveis sobre este tema concordam que os custos diretos e indiretos dos cancros profissionais devem ser estimados em 10 mil milhões de euros por ano para a UE-28, ou seja, em cerca de 300 mil milhões de euros por ano, se forem incluídos os custos intangíveis.

 

A enormidade destes custos (que corresponde a cerca de 2% do PIB da UE-28) deverá suscitar uma reação por parte dos decisores políticos, incentivando-os a pôr em prática as políticas de prevenção necessárias.

 

Tradução da responsabilidade do Dep. SST

 

Fonte: “Cancer and work: understanding occupational cancers and taking action to eliminate them (ETUI),”  pág. 121

 

Aceda ao Guia Aqui.

https://www.etui.org/publications/books/cancer-and-work-understanding-occupational-cancers-and-taking-action-to-eliminate-them

 

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