Este
estudo analisa a forma como os diferentes Estados-Membros da UE abordam a
prevenção e a gestão dos riscos psicossociais no local de trabalho. Mais
especificamente, foram analisadas abordagens nacionais, incluindo ações
legislativas e não legislativas, em seis países: Bélgica, Dinamarca, Estónia,
Espanha, Croácia e Áustria.
Para
este estudo, foram realizadas pesquisas documentais a nível nacional e
entrevistas com partes interessadas nacionais em cada um dos países abrangidos
pelo projeto. A investigação documental analisou a legislação nacional e as
abordagens estratégicas, bem como as ações de apoio e execução, incluindo
atividades de apoio dos parceiros sociais e outros. Entre julho e outubro de
2024, foram realizadas um total de 40 entrevistas semiestruturadas com partes
interessadas nacionais nos Estados-Membros abrangidos pelo estudo.
Em
cada Estado-Membro, foram realizadas entrevistas com representantes
governamentais, inspeções do trabalho, parceiros sociais abrangendo
organizações patronais e sindicatos e, opcionalmente, peritos em segurança e
saúde no trabalho (SST), bem como investigadores.
O
objetivo era avaliar quais as medidas e os elementos específicos que foram
avaliados como tendo êxito no desencadeamento de mudanças, bem como compreender
os maiores desafios nacionais na abordagem dos PSR no local de trabalho. A
investigação documental e as entrevistas contribuíram para o desenvolvimento de
relatórios por país e informaram a seleção de propostas de estudos de caso a
desenvolver numa abordagem de acompanhamento.
Recomendações políticas
O
estudo mostra que a legislação nacional em matéria de prevenção de PRP está a
evoluir, com uma tónica crescente na gestão abrangente dos riscos e na
adaptação aos novos riscos associados à digitalização. No entanto, as variações
nas abordagens nacionais, os desafios em matéria de aplicação da legislação, a
fiabilidade dos dados e as lacunas na abordagem das novas realidades laborais
colocam desafios permanentes.
Quadros
legislativos
Incorporação da PRP na legislação
nacional em matéria de SST. As reações das partes
interessadas no âmbito deste projeto confirmam a utilidade das medidas
políticas para combater os RPS, começando por incorporar a sua prevenção na
legislação nacional em matéria de SST.
Para
que a legislação seja eficaz, deve estabelecer obrigações claras para os
empregadores, permitindo simultaneamente a flexibilidade necessária para
adaptar as intervenções às necessidades organizacionais e setoriais
específicas, tal como evidenciado pela Bélgica, Dinamarca e Áustria.
No
entanto, deve evitar-se a complexidade do quadro jurídico, a fim de assegurar
que as leis sejam acessíveis, compreensíveis e aplicáveis. Quadros
simplificados podem facilitar a conformidade e a implementação efetiva em
diversos setores.
Introdução de definições
abrangentes de RPS. A identificação e a gestão dos riscos são
frequentemente complicadas devido à sua natureza multifatorial e à falta de
definições normalizadas. A existência de definições jurídicas claras ajuda a
garantir que todos os riscos relevantes, incluindo as condições de trabalho e a
dinâmica interpessoal, podem ser abordados de forma eficaz.
Algumas partes interessadas
entrevistadas em todos os estudos nacionais sublinham a necessidade de
alargar a lista oficial de doenças profissionais de modo a incluir as
condições causadas RPS no trabalho.
Atualmente,
são classificadas como acidentes de trabalho e não como doenças ocupacionais ou
a necessidade de provar que uma doença ocupacional causada por fatores
psicossociais recai apenas sobre o trabalhador afetado, o que resulta num
processo pesado e difícil, com expectativas de resultados pouco claras.
Adaptação da legislação aos
desafios modernos do local de trabalho. Com a crescente prevalência
do teletrabalho e da digitalização, uma série de partes interessadas
entrevistadas destacam a necessidade de a regulamentação laboral evoluir, a fim
de proteger os trabalhadores dos emergentes RPS.
As
partes interessadas croatas e espanholas, em especial, salientaram a
necessidade de atualizações legislativas para dar resposta aos desafios
emergentes, como o teletrabalho, o direito à desconexão e outros aspetos
relacionados com a digitalização. Estas adaptações garantem que a saúde mental
dos trabalhadores e o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada são
protegidos em ambientes de trabalho cada vez mais digitais e flexíveis.
Políticas
abrangentes que levem em conta a transformação digital, incluindo diretrizes
para o trabalho remoto, devem ser integradas para mitigar novas formas de RPS
decorrentes dos avanços tecnológicos. As partes interessadas em Espanha
salientaram igualmente que a legislação e as definições de RPS devem ser
flexíveis para se adaptarem à natureza evolutiva do trabalho e abordarem os
riscos futuros, ainda por identificar.
Abordagens direcionadas para
grupos vulneráveis. As partes interessadas espanholas e croatas
salientaram a necessidade de assegurar que as necessidades específicas dos
grupos vulneráveis sejam devidamente tidas em conta e protegidas. Tal pode ser
alcançado através de políticas de local de trabalho inclusivas e equitativas
que promovam um tratamento justo e oportunidades para todos os trabalhadores.
Em
vez de se concentrarem apenas em medidas legislativas, as partes interessadas
sugeriram explorar uma variedade de abordagens, tais como políticas adaptadas,
iniciativas setoriais específicas e mecanismos de apoio reforçados, a fim de
promover a inclusão e beneficiar a mão de obra em geral.
Traduzir
a legislação na prática
Devem igualmente ser
consideradas abordagens específicas para diferentes setores. Diferentes
setores encontram frequentemente RPS únicos influenciados pelas suas condições
de trabalho específicas, tais como elevadas exigências emocionais ou
cognitivas, horários longos ou irregulares e interações com clientes, alunos ou
clientes desafiantes.
A
resposta a estes desafios setoriais permite o desenvolvimento de orientações e
materiais de apoio mais claros e pertinentes para empregadores e trabalhadores
destas indústrias. As medidas setoriais adaptadas poderão incluir instrumentos
personalizados de avaliação dos riscos, programas de formação específicos e
estratégias de prevenção concebidas especificamente para cada sector.
Sensibilização e redução do
estigma. A sensibilização para os RPS e os problemas de saúde
mental é essencial para reduzir o estigma e incentivar a gestão proativa destes
riscos nos locais de trabalho. Alguns países, como a Estónia, a Espanha e a
Croácia, parecem debater-se mais com a questão do estigma, apesar de já tomarem
medidas como a realização de campanhas, por exemplo, o "Mês da Saúde
Mental" da Estónia, para enfrentar este desafio.
Na
Áustria, os esforços para reduzir o estigma demonstraram um impacto positivo,
melhorando a cultura no local de trabalho e aumentando a atenção prestada às
RPS e à saúde mental. Ao mesmo tempo, deve considerar-se, para efeitos de
avaliação, que a sensibilização para certos riscos pode também conduzir a uma
maior comunicação desses riscos. Nesse sentido, os números precisam ser vistos
em contexto e interpretados tendo em mente aspetos multifatoriais.
Promover a responsabilidade
partilhada pelos RPS e a promoção da saúde mental. As
iniciativas específicas e não legislativas devem centrar-se tanto nos
empregadores como nos trabalhadores, salientando que o bem-estar mental é uma
responsabilidade partilhada dentro das organizações. Exemplos da Bélgica e da
Áustria sublinham a importância de educar os empregadores sobre o papel das
condições de trabalho na doença mental, transferindo a narrativa da
responsabilidade individual para a responsabilidade organizacional.
A
hierarquia da prevenção, assegurando sempre que os RPS são eliminados ou
prevenidos através da primeira tomada de medidas organizacionais e técnicas, é
um princípio orientador a ter em conta. As medidas de apoio individual só podem
ser úteis quando é assegurado um ambiente de trabalho psicossocial sólido.
Avaliação
de riscos e planos de prevenção de RPS. Para gerir eficazmente estes
riscos, são necessários planos para avaliações de riscos no local de trabalho e
medidas preventivas. Os empregadores devem dar prioridade à eliminação ou
mitigação de RPS através de estratégias abrangentes que envolvam ativamente os
trabalhadores no seu desenvolvimento, garantindo relevância e eficácia.
É
fundamental prestar um apoio sólido aos empregadores neste processo. A
ferramenta OiRA da Bélgica, concebida especificamente para micro, pequenas e
médias empresas, foi desenvolvida para servir de recurso para orientar os
empregadores na realização de avaliações de RPS e na criação de políticas de
bem-estar mental. Da mesma forma, a AUVA da Áustria oferece suporte gratuito e
ferramentas personalizadas para empresas com menos de 50 funcionários,
facilitando soluções acessíveis e práticas.
O reforço da prevenção
através da participação de peritos, da integração dos
conhecimentos especializados dos especialistas em saúde no trabalho e dos
psicólogos nas avaliações do local de trabalho e nos planos de prevenção, foi
salientado por muitas partes interessadas como um bom caminho a seguir.
Ao
envolver estes profissionais, os empregadores podem garantir que as estratégias
para abordar as doenças decorrentes de RPS são abrangentes e eficazes,
abordando as complexidades dos desafios de saúde mental no local de trabalho.
Exemplos da Estónia, Croácia e Áustria destacam o valor de alavancar
conhecimentos especializados para desenvolver intervenções direcionadas e impactantes
e apoiar os empregadores na criação de estratégias de prevenção de RPS. A
abordagem belga com conselheiros confidenciais e conselheiros de prevenção
também mostra um caminho inovador para lidar com os problemas que surgem em
relação aos RPS no local de trabalho.
Reforço das inspeções de
trabalho e dos inspetores. É essencial melhorar as inspeções de
trabalho através de formação específica, recursos humanos adicionais e/ou
unidades especializadas e instrumentos sólidos para fazer cumprir a legislação
relativa aos RPS e apoiar os esforços de prevenção. Países como a Bélgica, a
Espanha e a Áustria equipam os inspetores com listas de verificação e formação.
Bélgica e Dinamarca criaram unidades especializadas que estão bem equipadas
para lidar com estes riscos, como a Direção-Geral de Controlo belga sobre o
bem-estar no trabalho.
Na
Estónia e na Croácia, as partes interessadas sublinham a necessidade de
orientações mais claras e de reforço das capacidades dos inspetores, a fim de
assegurar uma supervisão eficaz e o apoio dos empregadores.
Apoio
adicional às PME. Tendo em conta os recursos limitados e os
conhecimentos especializados frequentemente disponíveis para as PME, o apoio e
os incentivos específicos são cruciais para assegurar o cumprimento da
legislação relativa aos RPS. Instrumentos simplificados, incentivos financeiros
e apoio estrutural podem ajudar as PME a implementar medidas concretas. As
partes interessadas croatas sublinham a importância de um apoio personalizado
às empresas de menor dimensão, a fim de assegurar que as medidas de RPS são
práticas e sustentáveis. O apoio à ferramenta OiRA belga já foi mencionado
acima. A ajuda estrutural pode colmatar lacunas de recursos, permitindo às PME
dar prioridade à saúde e segurança no local de trabalho sem pressões
financeiras indevidas.
Alavancagem
de dados para políticas baseadas em evidências
Melhoria na recolha de
dados. Sistemas robustos de recolha de dados, mecanismos de
comunicação obrigatória e um maior financiamento da investigação são essenciais
para melhorar a compreensão e a atenuação dos RPS.
Dados
abrangentes sobre as condições e os riscos no local de trabalho, o bem-estar
dos trabalhadores e o impacto económico dos RPS podem servir de base a
políticas e práticas baseadas em dados concretos. Países como a Bélgica, a
Espanha, a Croácia e a Áustria sublinham a necessidade de legislação que se
adapte às tendências emergentes em matéria de RPS, apoiada por dados precisos e
oportunos. Por exemplo, o Plano de Ação Federal da Bélgica para o Bem-Estar
Mental no Trabalho é complementado por um projeto de prospecção de dados
financiado ao abrigo do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência.
Esta
iniciativa compila dados de várias fontes numa base de dados central com mais
de 500 indicadores sobre riscos profissionais, condições de trabalho e medidas
de prevenção.
Promover
o diálogo social
Reforçar o diálogo social e
a colaboração entre as várias partes interessadas. Um
diálogo social eficaz é fundamental para abordar as RPS e promover ambientes de
trabalho favoráveis. A colaboração entre empregadores, trabalhadores e seus
representantes e decisores políticos garante que são consideradas diversas
perspetivas no desenvolvimento e implementação de estratégias de prevenção de RPS.
Os exemplos belga e dinamarquês demonstram como uma abordagem a vários níveis —
envolvendo as partes interessadas a nível nacional, setorial e empresarial —
pode melhorar a conceção, a aplicação, o acompanhamento e a avaliação da
legislação e das medidas.
A colaboração das partes
interessadas é também fundamental para aumentar a sensibilização para os RPS,
reduzir o estigma e incentivar a comunicação de informações, tal
como evidenciado pela Bélgica e pela Áustria. Ao criar canais de comunicação
abertos, o diálogo social facilita o desenvolvimento de estratégias adaptadas,
reforça a aceitação das políticas e promove um compromisso comum para melhorar
o bem-estar no local de trabalho.
O
fortalecimento desses esforços colaborativos pode levar a soluções mais
inovadoras e impactantes, garantindo um ambiente de trabalho mais seguro e
saudável para todos. Esta abordagem inclusiva também garante que as políticas
abordam os desafios específicos de cada setor e refletem as realidades
enfrentadas pelos trabalhadores em todos os setores.
Tradução da responsabilidade do Dep. SST
Versão original Aqui:



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