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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Reflexão da ETUI - Como a pandemia agravou os riscos psicossociais relacionados com o trabalho


Imagem com DR


Após uma pausa de dois anos devido à pandemia, a 7.ª reunião da ETUI sobre prevenção dos riscos psicossociais no trabalho teve lugar durante um seminário online organizado em outubro de 2021. O foco foi colocado na incidência dos riscos psicossociais durante a pandemia do Covid-19.

Embora os riscos psicossociais sejam um fenómeno relacionado com o trabalho, cujos efeitos já são bem conhecidos, a pandemia expôs as desigualdades e agravou os riscos existentes, tornando o problema ainda mais crítico.

Os participantes apelaram à adoção de uma diretiva da UE, uma vez que os riscos devem ser abordados como uma questão coletiva que exige soluções coletivas.

Um estudo da OCDE e da Eurofound sobre a saúde mental desenvolvido durante a pandemia, evidenciou que a saúde mental se deteriorou, em todos os países da OCDE em 2020, com uma percentagem mais significativa da população a sentir ansiedade e depressão.

Os trabalhadores dos setores da saúde e dos cuidados sociais estavam entre os grupos profissionais que foram mais expostos aos riscos psicossociais. A pandemia afetou-os fortemente, uma vez que as fontes destes riscos surgem de uma conjugação de fatores organizacionais, de gestão, sociais e económicos.

A falta de equipamentos de proteção individual, o conteúdo do trabalho, incluindo os turnos irregulares e novas funções, a carga de trabalho pesada e as longas horas de trabalho contribuíram para o aumento dos riscos.

De acordo com Paula Franklin, investigadora da ETUI que mapeou o fenómeno, os resultados físicos e psicológicos observados englobam o burnout, a ansiedade, a depressão, os estados de insónia e fadiga ou os sintomas de stresse pós-traumático. Afirma que a implementação das medidas preventivas deve enquadrar-se na realidade dos trabalhadores e devem permitir-lhes participar nesse processo.

 

Consequências mentais e físicas

Os riscos psicossociais incluem sentimentos de insegurança (relacionados com o trabalho, os rendimentos, os direitos e a proteção social, o tempo de trabalho, o futuro do emprego ou empregabilidade, a representação do trabalhador) e a falta de justiça. Estes fatores explicam porque é que os trabalhadores em situação precária se encontram numa situação particularmente mais frágil.

Com efeito, existe uma ligação clara entre a qualidade do trabalho e o emprego precário e entre o emprego precário e a saúde mental, como explicou Christophe Vanroelen, professor de sociologia na Universidade de Bruxelas. A pandemia afetou profundamente as profissões pedagógicas, caraterizadas por condições de trabalho desleais e por salários deficientes. Também perturbou os laços emocionais devido ao distanciamento social e ao isolamento social.

De acordo com Susan Flocken, diretora europeia da ETUCE, até metade dos professores sentiram stresse e ansiedade, enquanto até um terço apresentava sinais de depressão.

Além disso, Hélène Sultan-Taïeb, professora da Universidade de Montréal do Quebec, e Isabelle Niedhammer, diretora de investigação do Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica sublinharam que os riscos psicossociais também podem levar ao surgimento de doenças cardiovasculares.

 

Os efeitos adversos do teletrabalho

Para os profissionais da educação, que incluem um vasto número de trabalhadores de vários setores, o teletrabalho tornou-se uma norma durante a pandemia. O trabalho remoto tem contribuído para aumentar a carga de trabalho, perturbar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal e dar origem a sentimentos de isolamento social.

Pierre Bérastégui, investigador da ETUI, explicou que o teletrabalho pode ser considerado uma solução temporária para enfrentar a crise e uma transformação a longo prazo das modalidades de trabalho. Para ser eficaz e viável, a transição para o teletrabalho estrutural deve implicar uma reorganização dos processos de trabalho.

De acordo com Slavica Uzelac, diretora executiva da Eurocadres, o teletrabalho levantou questões de desigualdade, uma vez que as grandes empresas estão principalmente mais bem equipadas, fornecem formação e têm acordos de empresa. Além disso, a falta de equipamento adaptado e ergonómico em casa pode resultar em distúrbios músculo-esqueléticos.

Embora o teletrabalho seja suscetível de ser stressante, muitos trabalhadores dizem ter tido uma boa experiência em teletrabalho em relação às suas possibilidades em termos de flexibilidade e de autonomia.

No entanto, o risco reside na possibilidade da transição para o teletrabalho estrutural possa tornar-se uma estratégia económica em detrimento da saúde e da segurança no trabalho.

 

Aumento da violência nos locais de trabalho

As mulheres são geralmente mais expostas à violência e ao assédio sexual. Durante a pandemia, foram colocadas na linha da frente: na Europa, 70% dos trabalhadores considerados essenciais eram mulheres.

Um inquérito realizado pela UNI Europa mostrou que os trabalhadores do setor dos serviços foram particularmente expostos, levando a um impacto severo na sua saúde mental a longo prazo, especialmente nas mulheres que enfrentaram violência de clientes, utentes ou pacientes.

Em alguns casos, isto também levou a lesões físicas. Amel Djemail, diretor de igualdade de oportunidades da UniEuropa, observou que a ausência de políticas e a falta de apoio dos empregadores na resposta à prevenção desta violência afetou muitas mulheres nos locais de trabalho.

Além disso, o rescaldo inclui o aumento do absentismo, a diminuição da motivação, a redução da produtividade, a deterioração das relações laborais, o aumento do volume de negócios e as dificuldades de recrutamento. Além disso, observou-se um impacto nos rendimentos das mulheres.

 

Um impulso para a adoção de uma diretiva da UE

A diretiva europeia relativa à Segurança e à Saúde no Trabalho, adotada em 1989, prevê um quadro jurídico assente numa abordagem quantificada dos riscos profissionais. No entanto, segundo Aude Cefaliello, investigadora da ETUI, a dimensão especifica da saúde mental não se encontra explicitamente abrangida por esta diretiva.

Não há dúvida de que a saúde e a segurança dos trabalhadores devem abranger a sua saúde mental, mas não existe atualmente uma legislação que aborde especificamente a prevenção dos riscos psicossociais a nível da UE.

Vários Estados-Membros já têm integrada a dimensão mental da saúde na legislação nacional. Ainda assim, a proteção dos trabalhadores continua desigual. A crise COVID-19 pôs em evidência a necessidade de uma diretiva europeia com uma definição clara sobre prevenção dos riscos psicossociais.

A boa notícia é que a adoção de um projeto de relatório do Parlamento Europeu que incentiva a avaliação e a gestão de práticas de prevenção de riscos psicossociais como parte fundamental da melhoria da segurança e da saúde dos trabalhadores no trabalho.

Agora, a existência de uma legislação adequada parece possível. "Os sindicatos devem continuar a repetir a necessidade de adoção de uma diretiva", afirmou Nina Hedegaard Nielsen, assessora política em saúde e segurança no sindicato dinamarquês FH.

À luz desta perspetiva, os sindicatos lançaram uma campanha para a adoção de uma legislação da UE para combater o stresse relacionado com o trabalho no meio de uma crise de saúde mental agravada pelos diversos confinamentos.

 

Tradução da responsabilidade do Departamento de SST

 

Aceda à versão original Aqui.

 

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