Dia Internacional em Memória dos
Trabalhadores
Morrer a trabalhar tem de acabar agora!
Todos os anos, o trabalho mata 3 milhões de trabalhadores, em todo o mundo. Sharan Burrow, Secretária-Geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), afirma que morrer a trabalhar tem de acabar e que a Saúde e a Segurança no Trabalho devem ser reconhecidas como um direito fundamental para todos os trabalhadores.
Nos últimos três anos, mais de 9
milhões de trabalhadores morreram devido ao trabalho. Como dizem os
sindicalistas italianos e espanhóis, "Basta!" Chega!”
Há três anos, em junho, a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) – a única instituição tripartida a nível
mundial, constituída por igual número de representantes sindicais, empregadores
e governamentais – concordou que a Saúde e a Segurança no Trabalho
deveriam tornar-se um princípio fundamental e um direito no trabalho.
É essa a nossa mensagem, neste Dia Internacional em Memória dos
Trabalhadores, dia 28 de abril 2022,
em que lamentamos os mortos, mas comprometemo-nos a lutar pelos vivos!
Este ano, a Saúde e a Segurança no Trabalho
deve juntar-se a outros direitos fundamentais da OIT, como sendo a proibição do
trabalho forçado e do trabalho infantil, a discriminação no trabalho, a liberdade
de aderir a um sindicato e de negociar coletivamente.
Não pode continuar a oposição de
empregadores desinteressados ou de governos indiferentes. Deve ser garantido o
nosso direito em ir trabalhar e voltar no final do dia, nas mesmas condições de
saúde.
Ao longo do último século da sua
existência, a OIT adotou uma série de convenções de Saúde e Segurança – algumas
delas gerais, outras setoriais ou específicas, incidindo sobre riscos profissionais
distintos.
Uma dessas convenções, especificamente
a n.º 155 (C155) da OIT, sobre a Segurança e da Saúde no Trabalho, deve
tornar-se uma convenção fundamental, exigindo a concordância do governo como
condição da adesão à OIT, quer tenham ou não passado pelo processo formal de
ratificação. A maioria dos países do mundo – 187 – são membros da OIT.
O C155 exige que os governos disponham
de um sistema preventivo de Saúde e Segurança, envolvendo um conjunto de
obrigações dos empregadores, nomeadamente a consulta aos trabalhadores e aos
seus representantes.
Confere, ainda, direitos aos
trabalhadores, nomeadamente a formação, a disponibilidade de equipamento de
proteção individual e a recusa em efetuar trabalho perigoso sem penalização.
O que funciona
melhor?
Queremos que se avance para outro normativo,
a Convenção n.º 161 da OIT, sobre Serviços de Saúde no Trabalho que
exige que os governos garantam que os trabalhadores tenham acesso a um serviço
de saúde ocupacional escolhido em consulta com os trabalhadores e os seus
representantes, alargando assim, a cobertura dos 20% dos trabalhadores formais
que já têm acesso a estes serviços e que aborda as doenças profissionais que
causam duas em cada três mortes no trabalho em todo o mundo.
E a Convenção n.º 187 da OIT, sobre
a Promoção da Saúde e da Segurança no Trabalho através de uma instituição
nacional tripartida, também será importante. Queremos que estas e todas as
outras convenções de Saúde e Segurança da OIT sejam ratificadas e
implementadas, sendo que os sindicatos, a nível mundial, exigirão que a OIT e
os seus 187 países membros façam mais para promover isso.
A Confederação Europeia dos Sindicatos
(CES) exige zero vítimas mortais no trabalho.
A IndustriALL European Trade Union
(central sindical) tem pugnado pelo fim da carnificina nas minas de carvão, em
todo o mundo, especialmente na Ásia.
Do global ao local, os sindicatos
colocarão as suas principais prioridades no centro da campanha para tornar a Saúde
e a Segurança no Trabalho um direito fundamental da OIT.
Queremos vê-lo embutido na saúde
pública e estamos a trabalhar com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para que
isso aconteça. Queremos que os acordos comerciais reconheçam que é obsceno que
os países concorram com base em quem tem as normas de Saúde e Segurança mais permissivas.
E queremos que instituições
financeiras internacionais, como o Banco Mundial e os bancos de desenvolvimento
regional, insistam em que os seus investimentos exijam resultados decentes em
termos de Saúde e Segurança: principalmente o direito dos trabalhadores regressarem
a casa nas mesmas condições de saúde que tinham quando foram trabalhar.
Apesar de alguns representantes dos
empregadores na OIT arrastarem este reconhecimento, e das dúvidas de alguns
governos, muitos empregadores e vários governos, principalmente da Europa, juntaram-se
ao nosso apelo em termos direito a locais de trabalho saudáveis e seguros.
Mas, desde que Joe Biden se tornou presidente, e sua Secretária do Trabalho, Marta Walsh, que foi trabalhadora do setor da construção civil, também os EUA se juntaram a este apelo.
Lições do Covid-19
Mas não tem sido apenas a ausência de
consciência no topo do movimento internacional de empregadores, ou a pressão
dos governos anti trabalhadores, como o Brasil, que têm abrandado as coisas nos
últimos três anos.
Ironicamente, foi uma doença maciça no
local de trabalho que impediu a realização da Conferência Internacional do
Trabalho de 2020, e transformou a Conferência de 2021 em sistema aberto e
virtual, durante seis meses.
A pandemia Covid-19 afetou fortemente
o local de trabalho, tendo sido um desastre em termos de saúde pública.
Demasiados trabalhadores da saúde e apoio social, educação, agricultura, logística
e retalho, transformação de alimentos, enfrentaram riscos específicos devido à
doença e à inexistência de medidas de prevenção básicas e de saúde ocupacional.
A transmissão no domicílio era um
aspeto da doença, embora, naturalmente, as pessoas a transmitissem para as suas
famílias a partir dos locais de trabalho, quer se tratasse de doentes ou
profissionais de saúde e de cuidados, professores ou estudantes escolares,
clientes ou trabalhadores da hotelaria, utentes ou motoristas de transportes
públicos.
A luta para pôr em prática regras de Saúde
e Segurança no Trabalho só terminará quando a estabelecermos como um direito
fundamental. Há mais de vinte anos que os sindicatos exigem uma Convenção sobre
riscos biológicos para prevenir doenças no local de trabalho como a Covid-19.
Esta Convenção, que deverá agora ser negociada em 2024 e 2025, teria evitado dezenas de milhares de mortes por Covid-19, prevenindo a exposição no local de trabalho, bem como os casos de Covid de longa duração que têm debilitado tantos trabalhadores.
Necessitamos de uma Convenção forte,
juntamente com a previsão destas doenças como profissionais para incentivar a
prevenção e a compensação, antevendo a ocorrência de uma próxima pandemia.
Os riscos psicossociais, como o stresse
e os riscos ergonómicos que conduzem a distúrbios musculoesqueléticos, também
precisam de ser regulamentados, a nível global e nacional.
Riscos desiguais
Uma das lições da pandemia Covid-19 foi a que as trabalhadoras mulheres estavam mais expostas aos riscos do que os homens, pelo que precisamos de um sistema de Saúde e Segurança que reconheça que alguns trabalhadores são mais desfavorecidos do que outros.
As trabalhadoras mulheres predominavam
em muitas indústrias – como a saúde e os cuidados/apoio social, a educação, o
retalho e a agricultura – onde os riscos de exposição se revelaram mais
elevados.
E muitas mulheres trabalhadoras encontravam-se
menos protegidas, designadamente por máscaras que foram desenhadas para rostos
maiores e masculinos.
Demasiadas mulheres estão representadas
nas profissões onde predominam baixos salários e uma reduzida acessibilidade aos
serviços de saúde profissional.
E, ainda mais lamentável, os vários
confinamentos levaram a um aumento da violência doméstica, prendendo as
mulheres, para as quais o trabalho é muitas vezes o seu único descanso, com os
seus parceiros abusivos.
No entanto, não eram apenas as
mulheres que estavam em maior risco. Os migrantes e as minorias étnicas
geralmente estão, mais frequentemente, expostos a trabalhos inseguros, o que
significa que tiveram menos oportunidades para evitar locais de trabalho
tóxicos e medidas de precaução menos adequadas no local onde trabalharam.
E foram os países com maiores
proporções de pessoas de etnia negra que ficaram impedidos de provisão de
vacinas pelo nacionalismo da vacina, devido a regimes de dívida que restringiam
a prestação de cuidados de saúde pública e devido à voracidade das grandes farmacêuticas,
interessadas em lucrar com o seu monopólio em tecnologia e em receitas de
vacinas.
Precisamos de um acesso igual a uma Saúde
e Segurança com mais qualidade, e essa é outra razão pela qual é tão importante
torná-la um direito fundamental.
Porque deve aplicar-se a Todos no Trabalho.
Tema do 28 de abril
2022
Precisamos que a Saúde e a Segurança
no Trabalho sejam um princípio fundamental da OIT e um direito no trabalho para
evitar que mais trabalhadores sofram doenças e lesões, que mais trabalhadores percam
os seus colegas e mais famílias a sofrer.
Os trabalhadores devem ter o direito
de recusar trabalhos inseguros e devem participar nas decisões sobre a
prevenção, no seu local de trabalho. Os trabalhadores precisam de sindicatos
para garantir que esses direitos se tornem realidade, e – neste Dia
Internacional em Memória dos Trabalhadores, acima de todos os outros – precisam
de si para que tudo aconteça.
Se não for agora, é quando?
Tradução da responsabilidade do Departamento de SST da UGT
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