Um
recente dossier temático publicado pelo INRS dedica especial atenção ao teletrabalho em período de confinamento, e a necessária prevenção de comportamentos sedentários.
Como
sabemos, em tempos de confinamento, como o que atualmente vivemos, o
teletrabalho pode aumentar o tempo gasto em comportamentos sedentários e, por
conseguinte, exigir a aplicação de medidas preventivas adequadas.
É
fundamental limitar o tempo gasto na posição sentada e introduzir tempos
regulares de atividade física, mesmo que devido ao confinamento, sejam
moderados.
Por considerarmos
esta temática da maior importância para os trabalhadores, apesar de não representar
um risco grave para a saúde e segurança, importa ter em conta os riscos
inerentes a este sedentarismo. Por esta razão procedemos à tradução do seu
conteúdo.
Neste
momento sem precedentes da crise de saúde, as empresas estão a reorganizar-se
para continuar toda ou parte da sua atividade. Para muitos trabalhadores, o
teletrabalho tornou-se a norma para conciliar a contenção e a continuação da
atividade profissional. Nestas condições excecionais, a introdução do
teletrabalho pode conduzir a uma redução do nível de atividade física dos
trabalhadores em causa, bem como a uma maior exposição ao comportamento
sedentário, exigindo assim uma vigilância especial.
Comportamento sedentário: Definição e Riscos
O comportamento sedentário carateriza-se
por uma postura sentada
(ou alongada), com um gasto energético muito baixo (1,5 vezes o do descanso). Numa
situação profissional, o comportamento sedentário pode ser observado, por
exemplo, quando sentado durante um longo período de tempo durante o trabalho com
equipamento dotado de visor, ou durante uma reunião, em que o trabalhador está
confortavelmente sentado num assento.
No entanto, existem fortes ligações entre o comportamento sedentário prolongado
e vários efeitos para a saúde: mortalidade por todas as causas e
especialmente a cardiovascular (por ataque cardíaco, acidente vascular
cerebral...), distúrbios metabólicos como diabetes tipo 2, doenças
cardiovasculares (hipertensão arterial, insuficiência cardíaca...), cancros
(cólon, pulmão, útero...), problemas de saúde mental (depressão...) ou
obesidade.
Embora estes problemas de saúde exijam um
período relativamente longo de exposição, as perturbações fisiológicas podem
ser observadas logo nas primeiras semanas
associadas aos níveis reduzidos de atividade física. Foi salientado que um
aumento significativo do tempo de permanência na posição sentado, ao longo de
um dia (mais 15%) poderia induzir a distúrbios metabólicos, tais como uma
mudança na atividade da insulina do nosso organismo.
Da mesma forma, a redução do número de
passos diários de 10.000 para 1.500 pode, após duas semanas, induzir a distúrbios
metabólicos (menor sensibilidade à insulina, aumento do colesterol LDL...),
cardio-respiratório ou mesmo, levar a um aumento da massa gorda e do aumento de
peso.
Num
período de confinamento, a obrigação de permanecer em casa associada ao teletrabalho
pode resultar num nível limitado de atividade física e pode aumentar o tempo
gasto em comportamentos sedentários, situação já difundida para muitos trabalhadores
que trabalham diariamente em frente a um computador.
No
sector privado, em circunstâncias normais, mais de 4 em cada 10 postos de
trabalho seriam compatíveis com o teletrabalho. Numa situação atual de
confinamento, a atividade profissional de muitos trabalhadores ocorre em casa,
no teletrabalho, provavelmente nas mesmas proporções.
Apesar
de uma atividade que parece semelhante à normalmente realizada dentro da
empresa, existem diferenças entre a atividade realizada no local de trabalho
habitual e a atividade realizada em casa, especialmente quando o teletrabalho não
é previsto, mas imposto pelo confinamento.
Assim,
esta nova forma de trabalho pode levar os trabalhadores a estarem mais expostos
a comportamentos sedentários. Há várias razões para isto:
- Horário de trabalho: é muitas vezes
mais difícil definir horários regulares quando se está em teletrabalho. Por
exemplo, não há limites para o horário de funcionamento da empresa ou para o
intervalo para o almoço. Os horários de trabalho, nem sempre em consonância com
os dos colegas (também no teletrabalho), podem levar a manter-se ligados
durante um período de tempo mais longo.
Finalmente, foi identificado que o
teletrabalho pode levar à hiperconexão. Assim, a quantidade de tempo gasto
sentado em frente ao ecrã do computador pode tornar-se maior do que o habitual.
- Organização do trabalho: No local de trabalho,
a participação numa reunião de equipa requer, geralmente, a mudança para uma
sala apropriada (e, assim, quebrar temporariamente a postura sentada
prolongada).
No teletrabalho, as reuniões são
canceladas ou assumem a forma de videoconferência ou telefonemas, pelo que não
requerem a mudança da cadeira, do sofá ou até mesmo da cama. Os intercâmbios
formais ou informais entre os colegas são também uma oportunidade para combater
o comportamento sedentário, realizando alguns passos.
A
pausa da manhã e/ou da tarde também pode ser uma oportunidade para dar alguns
passos e adotar uma postura de pé por alguns minutos, por exemplo, durante o
café. Esta rutura pode ser um ritual instalado dentro de uma equipa ou iniciado
por um funcionário que vai "treinar" os seus colegas.
No entanto, sozinho em casa, esta
estimulação pode desaparecer. Além disso, numa situação de contenção, as
atividades são reorientadas para tudo o que possa ser alcançado a partir do
computador ou do telemóvel. As trocas de comunicação são eletrónicas e, por
conseguinte, não exigem a necessidade de as pessoas alterarem a sua postura.
- Posto de trabalho: Em muitas empresas em que o trabalho é maioritariamente
com equipamentos dotados de visor na posição sentada, foram implementadas medidas
para prevenir comportamentos sedentários, pelo que é possível que os postos de
trabalho estejam equipados com mesas com diferentes alturas (para alternar a
postura sentada e de pé) ou escritórios dinâmicos (com pedal, por exemplo).
Em casa, os móveis ao redor do posto de
trabalho - computador - geralmente resumem-se a uma cadeira, poltrona ou sofá,
juntamente com uma mesa, mesa de jantar ou mesa de café. A postura sentada é a
dominante sem hipótese de alterar.
Além disso, em muitas empresas, as
impressoras são ferramentas coletivas que se encontram centralizadas num espaço
específico, obrigando o trabalhador a levantar-se e a caminhar para recolher os
seus documentos. Em casa, temos o hábito de instalar este equipamento perto do computador,
exigindo apenas que se estenda o braço para recuperar o documento.
Viagens: Os trabalhadores viajam no âmbito do seu trabalho. Em
termos de atividade física, estas viagens podem ser ativas (caminhadas,
ciclismo...) ou mais passivas (carro, comboio...). No entanto, continuam a
exigir alguns passos, o que já não acontece no contexto do trabalho que é realizado
em casa. O mesmo acontece durante as pausas para o almoço. A caminhada diária que
é realizada todos os dias até ao refeitório da empresa ou ao restaurante do
bairro será reduzida à realização dos poucos metros que separam a cozinha do
espaço dedicado ao trabalho (se não o mesmo local).
Estes exemplos ilustram o facto de que a
situação de contenção e teletrabalho
imposta pelo atual contexto de saúde poder aumentar consideravelmente o
comportamento sedentário.
Este aumento do comportamento sedentário
está associado a uma redução do nível de atividade física durante o
confinamento. As medidas de contenção impõem que, além de passar longas horas
em posição sentada, também limitam a prática da atividade física.
Não nos mexermos o suficiente! Por
último, a contenção pode também ser um veículo para a expressão de comportamentos de risco e
viciantes (consumo de álcool, tabaco, etc.), que podem agravar
problemas de saúde relacionados com comportamentos sedentários.
A
comida também deve ser
considerada. A presença permanente em casa, e perto da cozinha, bem como o
isolamento social ou a ansiedade pode levar, as pessoas, a comerem de uma forma
irregular (petiscos), calorias altas e não dietéticas (doces, bolos,
amidos...), o que aliado ao gasto energético ser muito reduzido, pode originar
problemas graves de saúde, a começar pelo aumento de peso.
Ações preventivas de adaptação às circunstâncias do teletrabalho
As circunstâncias excecionais de
contenção que estamos atualmente a viver exigem, por conseguinte, a
implementação de estratégias de prevenção para mitigar os efeitos do
comportamento sedentário relacionado com o teletrabalho.
O principal objetivo é limitar o tempo
total gasto em posição sentada e quebrar períodos de sessão prolongados,
introduzindo regularmente tempos de atividade física moderados como parte da
sua atividade profissional. "A sua missão, se a aceitar, é, portanto, limitar, durante este
período de confinamento, a sua postura sentada às 7:00 da manhã por dia no
total e não ficar sentada mais de 30 minutos seguidos.”».
Para
isso, recomenda-se, durante a sua atividade de trabalho:
- Tarefas alternativas para limitar o tempo que passa sentado
em frente a um ecrã, com certas tarefas que podem ser executadas em pé ou mesmo
a pé. Por exemplo, é possível alternar o tempo de trabalho num computador com
tempo de reunião por telefone para se levantar e andar. Largue o computador de vez em
quando!
- Implementar
um layout que permite alternar as posturas. Evite trabalhar sempre sentado, é importante que vá alternado as suas
posturas. Por exemplo, é possível aproveitar o mobiliário e o equipamento
disponíveis na sua casa para elevar o ecrã durante a videoconferência de forma
a torná-los de pé. Mude as posturas!
- Fazer
pausas para quebrar a postura
sentada. Prefira pausas
ativas, curtas, mas regulares. Levante-se, deixe o seu posto de trabalho
brevemente (pelo menos 2 minutos), mova-se e estique-se. Não aproveite a oportunidade
para se sentar noutro lugar!
Para
além das recomendações especificamente destinadas à prevenção do comportamento
sedentário, é igualmente aconselhável durante este período específico de
confinamento:
_
Organize o seu dia de trabalho definindo horários e planificando a sua
pausa para o almoço. Evite petiscar e
comer durante o horário de trabalho. Planeie uma verdadeira pausa para o
almoço, se possível nos mesmos momentos que os adotados em tempos e horários
normais. Planeie o seu dia!
-
Planear, no final do seu dia de trabalho, uma atividade dinâmica sem ecrãs
(exercícios físicos, jogos com crianças, etc.) Esta atividade permite-lhe fechar o seu dia de
trabalho e ter uma atividade física em vez dos efeitos nocivos relacionados com
os ecrãs (comportamento sedentário, fadiga visual, exposição à luz azul, ...)
induzido por certas atividades de relaxamento (televisão, tablet, smartphone,
videojogos, ...). Limite o tempo com os ecrãs!
Além disso, é também importante manter a
atividade física regular durante este período de contenção.
Recomenda-se uma prática mínima de atividade física dinâmica
de 30 minutos por dia para adultos. É também aconselhável realizar uma
variedade de atividades várias vezes por semana que fortalecem os músculos e
melhoram a flexibilidade e o equilíbrio.
Se estas recomendações forem dirigidas
diretamente aos trabalhadores em situações excecionais de teletrabalho,
recorda-se que o empregador e a administração
local devem assegurar que as condições de trabalho no domicílio
garantam a saúde e a segurança dos seus trabalhadores durante este período de
confinamento.
Em especial, o empregador deve ter o
cuidado de informar os trabalhadores
sobre a forma como o teletrabalho é realizado nestas circunstâncias
excecionais.
Deve igualmente adaptar a organização do trabalho de modo a torná-la
compatível com estas condições excecionais. Em particular deve estar atenta à
gestão dos horários, bem como ao ritmo de trabalho e ao ritmo de trabalho dos trabalhadores.
Terá também de assegurar que o direito de
desligar os teletrabalhadores seja respeitado a fim de evitar a hiperligação,
causando frequentemente tempo excessivo sentado em frente ao computador.
Nota: Tradução da responsabilidade do Departamento de SST da UGT
Aceda à versão original Aqui.
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