Divulgamos no nosso Blog este interessante
artigo de opinião da autoria do Professor Dr. António de Sousa Uva - A DOENÇA PROFISSIONAL COVID-19: MAIS UMA
INFEÇÃO TRANSMITIDA A PROFISSIONAIS DE SAÚDE ATRAVÉS DE GOTÍCULAS DO TRATO
RESPIRATÓRIO
" Os fatores de risco microbiológicos foram,
nos últimos cinquenta a sessenta anos, fatores de risco de natureza
profissional muito pouco valorizados em profissionais de saúde tendo, no
entanto, a propósito do vírus de imunodeficiência adquirida identificado há
cerca de 40 anos, despertado mais a nossa atenção, e de forma muito marcada e,
mais recentemente, também o risco da tuberculose multirresistente. A gravidade
das doenças e o seu desfecho são, portanto, fatores determinantes na percepção
desses riscos profissionais numa perspectiva comum do conceito de risco.
De facto, a exposição a fatores de risco
dessa natureza na prestação de cuidados de saúde e a manipulação de produtos
biológicos constituem situações de risco assinaláveis. A principal via de
transmissão (transmissão por via aérea) faz-se através de gotículas
provenientes das secreções respiratórias que têm tendência a sedimentar
rapidamente devido ao seu peso.
O coronavírus SARS-Cov2 transmite-se
através de gotículas provenientes da árvore respiratória de um indivíduo
infetado quando tosse, espirra ou fala, as quais se depositam nas mucosas de um
indivíduo suscetível. São essas as principais razões (agora por vezes
denominadas o racional) da necessidade imperiosa de evitar a proximidade entre
pessoas (distanciamento físico também denominado distanciamento social), a
permanência em ambientes fechados e pouco arejados, assim como a higiene das
mãos deficiente que também é muito facilitadora do contágio.
Contrariamente à gripe (existem muitas
diferenças …) a vacinação não está disponível na prevenção da doença. Quando (e
se) existir, naturalmente que os profissionais de saúde serão um dos grupos
prioritários para essa vacinação, com o duplo objetivo de se protegerem, mas
também de minimizarem a transmissão do vírus aos seus doentes.
A parotidite infeciosa (ou papeira) também
causada por um outro vírus, hoje muito pouco frequente devido à vacinação
(VASPR – que contém antigénios específicos do vírus do Sarampo, da Papeira e da
Rubéola) era muito frequente na altura, por exemplo, do baby boom após a
segunda grande guerra. E poderíamos falar também do sarampo e de outras doenças
infecciosas com vias de transmissão semelhantes.
A Lista Portuguesa de Doenças
Profissionais não inclui no seu capítulo quinto (Doenças Infeciosas e
Parasitárias), a COVID-19 por razões óbvias, mas o seu reconhecimento como
doença profissional poderá ser feito dada a natureza mista do nosso sistema de
reparação de danos emergentes de doença profissional.
São muitos os agentes microbiológicos que
se transmitem por gotículas e incluem os vírus ou as bactérias que são
responsáveis por quadros clínicos diversos, muito frequentemente envolvendo o
aparelho respiratório.
Enquanto não dispusermos de vacina (ou de
uma terapêutica eficaz) a tranquilização dos profissionais de saúde será uma
tarefa árdua (mas indispensável) que passa, para além da mais robusta formação
e informação, pelo recurso a medidas (organizacionais e outras) de gestão do
risco e pelo recurso, complementarmente às medidas de protecção colectiva, aos
equipamentos de proteção individual (adequados!) e à sua mais correcta
utilização.
Os Serviços de Saúde Ocupacional, com
profissionais competentes e com formação específica adequada e recursos
igualmente adequados, são indispensáveis para que essas tarefas sejam cumpridas
pelo que se torna inadiável um maior investimento na sua implementação e na sua
valorização no seio das organizações (também hospitais e agrupamentos de
centros de saúde). É essa a diferença entre o cumprimento de disposições
normativas (custo) e a promoção e proteção da saúde de quem trabalha
(investimento).
Médico do trabalho, Imunoalergologista e
Professor catedrático da NOVA (ENSP)
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