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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Cancro Ocupacional - Um Guia para o local de trabalho - parte II

 

No âmbito da Campanha sobre prevenção do cancro relacionado com o trabalho que teve a sua evidência maior no desenvolvimento do Webinar Internacional realizado a 5 de novembro, o Departamento de SST, ciente que a nível nacional não se tem produzido muita informação sobre a temática do cancro relacionado com o trabalho, principalmente com enfoque sindical, procedeu à tradução deste Guia da TUC ( O Trades Union Congress é um sindicato nacional central, uma federação de sindicatos do Reino Unido, que representam a maior parte dos sindicatos).

 

Pela pertinência da temática e bem assim, indiscutível qualidade da publicação, vamos publicar no nosso blog faseadamente a tradução realizada.

parte II

 

Por que o cancro é diferente?

 

A prevenção do cancro no local de trabalho tem uma atenção muito menor no local de trabalho do que a prevenção de riscos relacionados com quedas em altura ou com a eletrocussão. Isto apesar de apenas 220 a 250 trabalhadores morrerem a cada ano como resultado de uma lesão, em oposição aos 15.000 a 18.000 que morrem de cancro relacionado com o trabalho.

 

As mortes por cancro são tratadas de maneira diferente devido a vários fatores. O primeiro é que é quase impossível vincular um caso específico de cancro a uma exposição específica ou a uma substância causadora de cancro. Em segundo lugar, é muito visível quando há uma fatalidade no local de trabalho. A maioria das pessoas vítimas do cancro morre em casa ou no hospital. Em terceiro lugar, muitos tipos de cancro surgem muito tempo após a exposição inicial, não sendo por isso visíveis.

 

Muitas vezes a pessoa reforma-se antes de desenvolver qualquer sinal de cancro.

 

Finalmente, o cancro está a tornar-se muito mais predominante na sociedade e, como resultado, quando alguém desenvolve cancro, a causa raramente é identificada como sendo trabalho.

A ligação entre o indivíduo com o cancro e a causa para o seu surgimento ou os fatores de risco relacionados com a exposição a substâncias ou processos de trabalho é frequentemente quebrada.

 

Existem exceções, como o desenvolvimento do mesotelioma como resultado da exposição ao amianto, mas para a maioria dos cancros, tais como o cancro do pulmão, o cancro do estômago, o cancro nasal, o cancro da mama, o cancro da bexiga e o cancro da próstata, é muitas vezes impossível afirmar que esse cancro, em particular, foi causado por uma determinada e concreta exposição.

 

Além disso, alguns agentes cancerígenos afetam homens e mulheres de forma diferente, pelo que um produto químico mais suscetível de causar cancro nas mulheres não pode ser identificado num local de trabalho predominantemente masculino e vice-versa. O atraso temporal e a falta de certeza rompem a ligação entre o cancro e o local de trabalho.

 

É por isso que a sensibilização para o cancro no local de trabalho, tanto entre trabalhadores como empregadores, pode ser muito mais difícil do que lidar com outras doenças ou lesões que ocorrem imediatamente após a exposição.

 

Significa também que é raro serem tomadas medidas destinadas a eliminar os riscos de cancro. Quando um trabalhador morre em consequência de uma lesão no trabalho há quase sempre uma investigação do serviço de Segurança e Saúde no Trabalho.

 

Não existe investigação quando um trabalhador morre devido a um cancro relacionado com o trabalho, e como a exposição muitas vezes aconteceu há muitos anos, é quase impossível haver um processo em tribunal para a reparação de danos.

 

A Legislação

 

A legislação de Segurança e Saúde no Trabalho deixa claro que existe uma responsabilidade legal do empregador para garantir, na medida do razoavelmente praticável, a saúde de seus trabalhadores. Assegura também que os empregadores devem fornecer todas as informações, instruções e formação para garantir sua segurança.

 

Este requisito abrange não apenas a segurança de um trabalhador que é vítima de lesões imediatas, mas também qualquer perigo para a saúde a longo prazo. A legislação de Segurança e Saúde no Trabalho exige também que o empregador assegure uma avaliação adequada dos riscos para a saúde. Isso inclui qualquer risco que possa causar cancro relacionado com o trabalho.

 

Os regulamentos também estabelecem que o empregador deve identificar e, em seguida, introduzir medidas preventivas e de proteção necessárias para melhorar a saúde e a segurança no local de trabalho. Os regulamentos são claros: o primeiro objetivo deve ser sempre remover o perigo. Infelizmente, os empregadores, muitas vezes, esquecem isso e assumem apenas um papel de controlar os riscos.

 

Os Regulamentos de Gestão e o COSHH (Controlo de Substâncias Perigosas para a Saúde) estabelecem princípios claros para a prevenção que devem ser seguidos na hora de decidir o que fazer sobre um potencial perigo. Isto significa que o primeiro passo deve ser, sempre que possível, eliminar completamente o perigo – eliminando quaisquer riscos causados por cancro do local de trabalho.

Só após verificação desta premissa é que devem analisar se têm de controlar o perigo. E mesmo assim devem seguir uma determinada ordem. Em primeiro lugar, o empregador deve tentar reduzir o risco através da utilização de um produto químico ou processo menos perigoso. Isto significa substituir o produto químico por um que seja menos perigoso, ou alterar as práticas de trabalho para que o trabalhador não fique exposto ao perigo.

 

Muitos empregadores não consideram a substituição se houver algum custo adicional envolvido na substituição de um produto químico menos nocivo, mas a lei é bastante clara – se a substituição for "razoavelmente praticável", mesmo que seja mais cara, então deve ser usada.

 

Se não for possível substituir uma substância ou um processo por outro menos perigoso, então o empregador deve tentar garantir que não há acesso ao perigo através da utilização de divisórias ou de ventilação adequada. Se isso não for possível, deve tentar organizar o trabalho de forma a eliminar ou reduzir a exposição a esse perigo.

 

Finalmente, se nenhuma outra medida de controle funcionar, e como último recurso, devem garantir a utilização de equipamento de proteção individual (EPI). O EPI é muitas vezes não confiável, apenas parcialmente eficaz ou não é usado corretamente. Infelizmente, muitos empregadores vão direto a essa opção, em vez de remover ou reduzir a exposição a um agente cancerígeno por outros meios.

 

Existem também limites legalmente exequíveis e aplicáveis aos níveis de exposição a muitas substâncias, incluindo a maioria dos agentes cancerígenos que são conhecidos.

 

Estes limites de exposição, chamados limites de exposição no local de trabalho, são os níveis máximos absolutos aos quais os trabalhadores podem ser expostos. No entanto, recorde-se que, mesmo com estes valores de exposição máximos, continua a existir uma responsabilidade legal dos empregadores em reduzirem os níveis "na medida do razoavelmente possível/praticável".

 

Infelizmente, muitos empregadores encaram estes valores limite como sendo os níveis até aos quais é seguro expor as pessoas. Não é esse o caso, uma vez que não existe um limite de exposição seguro para qualquer cancerígeno e mesmo níveis muito abaixo destes valores podem levar a que alguns trabalhadores desenvolvam cancro.

 

Isto ocorre porque os cancros podem ser causados por exposições muito baixas a agentes cancerígenos.

 

Embora seja provável que quanto maior for a exposição, maior é a probabilidade de uma pessoa desenvolver cancro, isso não significa que o trabalho abaixo destes limites seja seguro. Pode ser um pouco mais seguro – mas ainda existe o risco de desenvolver cancro.

 

Só porque uma substância tem um limite de exposição no local de trabalho não significa que seja considerado seguro trabalhar com ela a esse nível, ou a qualquer outro nível.

 

É por isso que os sindicatos consideram que o objetivo deve ser eliminar toda a exposição a qualquer agente cancerígeno conhecido ou suspeito no local de trabalho. Não devemos aceitar níveis que continuem a levar os trabalhadores a desenvolver cancros evitáveis apenas porque a Comissão Europeia ou o HSE decidiram que um nível de exposição é "aceitável".

Os sindicatos decidiram, por isso, depois de muitos anos de campanha pela redução da utilização de agentes cancerígenos, que o seu objetivo deveria ser impedir a utilização destes agentes no local de trabalho através da alteração de processos, substituindo outras substâncias ou, quando tal não for possível, garantir que os níveis sejam reduzidos o mais baixos possível e que os trabalhadores estejam totalmente protegidos de qualquer contacto com um agente cancerígeno.

 

Embora reconheçamos que existem algumas dificuldades, e que algumas substâncias cancerígenas, tais como a sílica e a radiação solar, não podem ser removidas do local de trabalho, a exposição a elas pode ser facilmente controlada. Além disso, a maioria dos produtos químicos conhecidos ou suspeitos de causar cancro podem ser substituídos por outras substâncias menos nocivas.

 

 Nota: tradução da responsabilidade do Departamento de SST da UGT


Aceda à versão original Aqui.



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