A EU-OSHA publicou um interessante artigo OSHwiki sobre a temática do cancro relacionado com o trabalho, um assunto que tem sido objeto de particular atenção e preocupação por parte da UGT. Recentemente desenvolvemos um webinar dedicado a esta temática, para qual foram convidados peritos nesta área e que nos trouxeram um forte contributo para a discussão deste tema.
Tendo em conta a pertinência desta temática e encontrando-se esta publicação em inglês, o Departamento de SST da UGT procedeu à sua tradução. Esta é mais uma publicação traduzida e disseminada neste Blog como forma de contribuirmos para a divulgação de materiais concebidos no âmbito das diversas temáticas sobre a prevenção de riscos profissionais.
Pode aceder à versão original Aqui.
(parte 6)
Abordagens à avaliação do cancro profissional por ocupação
Foi realizado um estudo exaustivo nos países nórdicos - Estudo
Nórdico sobre Cancro Ocupacional (NOCCA). Baseia-se no acompanhamento de toda a
população ativa, tendo por referência um ou mais recenseamentos na Dinamarca,
na Finlândia, na Islândia, na Noruega e na Suécia.
O objetivo era identificar as ocupações e os fatores etiológicos
associados aos riscos de cancro. Foram observadas algumas associações, por
exemplo, a incidência do cancro dos lábios nos trabalhadores ao ar livre.
Este estudo NOCCA identificou novas descobertas que merecem uma
maior atenção, como sendo a incidência do cancro da língua e da zona genital
(vagina) nas trabalhadoras que trabalham nas atividades e processos químicos, a
incidência do cancro da pele (melanoma e não-melanoma) e do cancro da mama (entre homens e mulheres) e
o cancro do ovário nos trabalhadores que desenvolvem atividade com impressoras,
a incidência do cancro da trompa de falópio entre as cabeleireiras, o cancro do
pénis nos condutores e o cancro da tiroide nas mulheres que trabalham na
agricultura.
Em Itália, o projeto OCCAM (Occupational Cancer Monitoring) foi
conduzido em colaboração entre o Instituto Nacional italiano de Segurança e
Prevenção no Local de Trabalho ISPESL (Istituto Superiore per la Prevenzione e
la Sicurezza sul Lavoro) e o Instituto Nacional de Cancro italiano em Milão
(Istituto Nazionale per lo studio e la cura dei tumori).
O objetivo é investigar os
riscos de cancro no trabalho tendo em conta a área geográfica (província,
região) e o setor industrial.
Numa apresentação de 2009, takkala e Schneider da UE-OSHA
observaram que existem cerca de 167.000 mortes por ano na UE-27 que são
atribuíveis ao trabalho. O valor baseia-se na investigação finlandesa e na
UE-OSHA e nas estimativas da OIT. Inclui acidentes e violência (5%) e cancro
(57%), com uma grande proporção atribuível ao amianto.
Discussão
As informações sobre a extensão da exposição a agentes
cancerígenos, a fatores e às condições na Europa estão seriamente
ultrapassadas. O esforço mais abrangente até agora tem sido o projeto CAREX,
tal como acima apresentado. Existem registos nacionais sobre a exposição a
agentes cancerígenos em alguns países.
Não cobrem todos os agentes cancerígenos relevantes, e é muito
provável que exista subnotificação. As exposições ocasionais, irregulares e as
baixas tendem a ser particularmente subnotificadas nestes registos oficiais. Os
trabalhadores com tarefas de curto prazo podem ficar de fora das rotinas de
reporte.
Do ponto de vista da prevenção dos cancros profissionais, é
essencial o conhecimento dos níveis de exposição em diferentes profissões,
empregos e tarefas. Existem alguns estudos de revisão sobre profissões
específicas, por exemplo, os cabeleireiros.
No entanto, o longo período de latência entre a exposição e a
manifestação do cancro dificulta a determinação de:
a) uma ligação clara entre
a exposição a um determinado fator e o cancro relacionado, e
b) o reconhecimento de um cancro específico como atribuível à
exposição profissional.
Isto aplica-se especialmente quando os fatores cancerígenos são
misturados, dado que os trabalhadores não estão geralmente expostos a apenas um
fator, mas sim a diversos fatores, por exemplo, combinações de fatores e
condições químicas e/ou biológicos, físicos e de organização do trabalho.
Os sistemas de informação devem incorporar estimativas dos níveis
de exposição, a fim de melhor servir a vigilância dos riscos, a avaliação
quantitativa dos riscos e dos encargos e definir prioridades de prevenção.
Outras melhorias úteis:
§ a inclusão da dimensão do tempo
§ melhor utilização dos dados de medição da exposição nas
estimativas
§ extensão a todos os Estados-Membros da UE
§ inclusão de estimativas específicas do género e específicas da
ocupação
§ inclusão de informações de incerteza para as estimativas.
Várias destas melhorias foram adotadas em sistemas de informação
de exposição, tais como no WOODEX, TICAREX, Matgéné, FINJEM e CAREX Canadá. O
modelo mais desenvolvido neste momento é provavelmente o CAREX Canadá, que tem
a maioria destas funcionalidades, e divulga informações sobre exposições e
riscos através de uma aplicação web informativa, fácil de usar e gratuita.
A reavaliação das estimativas mais relevantes (por exemplo, as que
indicam uma elevada exposição e as das grandes indústrias ou profissões) pode
provavelmente aumentar a validade dos resultados. Vale também a pena notar que
uma grande parte das estimativas no CAREX e noutras matrizes de exposição se
baseia em "julgamento periciais". Os dados empíricos sobre o nível de
prevalência e exposição só são utilizados se forem facilmente disponíveis.
As possibilidades proporcionadas por abordagens como a NOCCA e a
OCCAM para analisar os riscos de cancro por ocupação baseadas em registos de
cancro e históricos de casos e por exposição profissional devem ser plenamente
utilizadas.
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